Louco por números
Zagueiro Bruno Alves usa seu dom para lidar com números para se dar bem no futebol e fora dele
Torcedor do Cleveland Cavaliers, da NBA, fã de futebol americano e viciado em estatísticas. O zagueiro Bruno Alves, de 27 anos, vive seu melhor momento no São Paulo. Na última quarta-feira, contra o Rosario Central, bateu o recorde de rebatidas no futebol brasileiro: 20. Neste ano, disputou 14 jogos, metade dos realizados pela equipe. Quando esteve em campo, o Tricolor sofreu sete gols (0,5 por jogo) —dois deles do Atlético-mg, quando Bruno não estava mais em campo. Em nove deles, o time não foi vazado.
Em entrevista ao Agora ,o camisa 34 falou sobre as cobranças que recebia do pai na adolescência e sobre o planejamento financeiro que o acompanha. Bruno gosta muito de números e, se não fosse jogador, trabalharia em alguma área de exatas.
“Sempre tive interesse, a gente sabe que a carreira de jogador é curta, então tem que fazer um pé de meia.” Agora Quando chegou a proposta do São Paulo, pensou que poderia ser a grande chance da carreira? Bruno Com certeza. Quando surgiu o interesse, eu fiquei até três dias sem dormir direito, ansioso demais. Olhava o celular toda hora, até de madrugada, para ver se tinha concretizado. Pensei: “Meu Deus, o São Paulo interessado em mim”. Quando fechou, foi um sonho realizado, minha família ficou bastante feliz. O jogador que joga aqui vive um sonho a cada dia, pela estrutura, pelos treinamentos. Agora Mas você teve possibilidade de sair do Brasil? Bruno Era o que eu tinha de concreto. Algumas propostas de times da Série A e uma dos Emirados Árabes. Eu fiquei mais interessado pelos árabes, porque era uma situação financeira boa. Mas quando soube do São Paulo, eu disse para esperar.
Agora Quando o Anderson Martins chegou, todos diziam que seria titular. Mas quem se deu bem foi você... Bruno É verdade, tem uma frase que eu gosto bastante: “Pessoas grandes fazem você se tornar grande”. Eu me considero no nível deles, de brigar por posição, e fico feliz de corresponder à altura.
Agora Este Brasileiro vai ser igual ao de 2017? Bruno Não, a gente trabalha muito para que não seja. Temos certeza de que não vai ser porque estamos visando coisas grandes. O elenco está maduro, concentrado na ideia de que o São Paulo precisa brigar lá em cima.
Agora Você costuma olhar seus números? Bruno Sim, eu gosto muito de estatísticas. Eu vejo os principais campeonatos do mundo, NBA, NFL, que são esportes bastante competitivos. Eles prezam muito pelas estatísticas. Gosto de ver quando eu jogo quantos desarmes eu faço, quantos passes eu erro, acerto. Até para evoluir, assim que você busca melhorar.
Agora E o interesse por números fora do futebol? Bruno Agora que o São Paulo me dá oportunidade, eu estou podendo investir também. A gente sabe que a carreira de jogador é curta, então tem de fazer um pé de meia, guardar um dinheirinho para aposentadoria. Até agora está dando certo, meus investimentos estão legais. Eu administro minha carreira, o “Life Planner” [projeto para organizar as finanças] me ajudou bastante. A gente faz planos de um, dois, três anos e longo prazo. Sou bem antenado a isso no mercado financeiro, taxa selic, CDI, CDB.
Agora O que tem como sonho na carreira? Bruno O meu sonho, e da maioria dos jogadores, é vestir a camisa da seleção brasileira e até disputar uma Copa do Mundo. A gente vê o exemplo do Rodrigo Caio, que está brigando por uma vaga direta. Eu vejo ali dentro, tem uns quadros com jogadores que ganharam títulos. Falei: “Pô, vou colocar minha fotinha aqui um dia”.
Agora Acha que tem um estilo de jogo parecido com o do Rodrigo Caio? Bruno Ele é um pouco mais técnico que eu. Ele tem qualidade em achar os passes. Eu me espelho nisso nele para evoluir meu futebol.
Agora O que a frase “O problema com o tempo é que ele acaba”, em suas redes sociais, significa para você? Bruno É pela morte do meu pai. Ele morreu em 2008, quando eu tinha 18 anos. Ele fez de tudo para eu ser jogador, me acompanhou desde criancinha. O que estou vivendo é mérito dele.
Agora Seu pai te cobrava? Bruno Demais! Teve um dia que ele veio no carro enchendo meu saco. Falei que não era mais pra ele ir nos meus jogos. Ele falou: “Eu só xingo porque sei que você pode render, não vou xingar um cara ruim”. Entrei chorando no quarto, ele ficou chorando na sala, aí depois a gente foi se abraçar. Um pediu desculpa para o outro.
Agora De onde veio o apelido de Buchecha? Bruno É da minha época de escola, em Jacareí (SP). Um dia, minha turma foi a um show do cantor Buchecha, eu era bastante fã, e cantei todas as músicas. Aí ficou o apelido. O Gabriel [irmão], que joga no Manthiqueira, ficou como o Buchecha Jr.