Agora

Curinga tricolor

Dispensado da base como beque, Liziero volta, vira especialis­ta em outras posições e amadurece no clube

- Alinne fanelli

Uma ligação na manhã da sexta-feira, 10 de março, mudou a vida do volante e lateral esquerdo Igor Liziero. O jogador de 20 anos estava de folga, após a Libertador­es sub-20, e foi chamado para treinar com o time principal porque Reinaldo e Edimar estavam machucados.

Chegou em um dia, fez dois treinos e, no domingo, estreou contra o Red Bull. Desde então, o camisa 31 mostrou maturidade para lidar com a rápida ascensão, inclusive no time titular. Hoje, contra o Santos, Liziero deve voltar ao time, já que foi poupado no último domingo, contra o Bahia.

Uma das vantagens dele é poder ser utilizado em várias posições pelo lado esquerdo.

Aos nove anos, o garoto fez teste no São Paulo, como meia. Passou, mas foi recuado para a zaga. Contrariad­o e sem se destacar, foi dispensado, mas voltou a Cotia pelas mãos do mesmo técnico. Enquanto esteve longe do Tricolor, o jogador aprimorou seu talento no futsal, que ele tanto gosta. “O futsal te ajuda a ter drible curto, passe bom, inteligênc­ia, porque você tá toda hora com a bola no pé”, conta ao Agora.

No gramado, ganhou versatilid­ade para atuar no meio, atrás e na lateral.

Liziero lembra do seu vaivém no clube, da inspiração em Xavi e Falcão e fala da expectativ­a de o time voltar a vencer no San-são. Agora Como você chegou à base do São Paulo? Liziero Eu tinha uns nove anos e minha mãe me inscreveu para uma peneira pelo site do São Paulo mesmo. Eu chutava de longe e chamava a atenção. Era muito alto também, cresci rápido. Quando eu passei no teste, foram me recuando. Fui para volante, lateral e zagueiro.

Agora E você se deu bem? Liziero Ah, eu era moleque, eu não gostava de jogar como zagueiro e treinava emburrado. Um dia, em um amistoso, o técnico pegou uns quatro moleques, inclusive eu, e disse que a gente não tinha qualidade para estar ali. Voltei para casa chorando. Eu sempre joguei futsal, desde os seis, sete anos. Foi quando eu falei que não queria mais jogar no campo. Fiquei até 11, 12 anos só no futsal. Perto de casa tem o [clube] Pequeninos do Jockey, que tinha parceria com o São Paulo. Minha mãe falou para eu ir lá, mas eu não queria, só me interessav­a o futsal. Mas ela me convenceu.

Agora Aí você reencontro­u aquele treinador? Liziero Fui treinar como lateral esquerdo. No primeiro dia do teste, chegou aquele mesmo treinador: “Ô, garoto, tudo bem?”. Falei: “Tudo bem”. “Você jogava onde?” “Ah, eu jogava no São Paulo.” Ele: “Cotia?” Falei: “É”. “‘Por que você saiu de lá?”. Respondi: “Foi o senhor que me dispensou”. “Eu? Eu não”. “Foi o senhor, tenho certeza”. “Fica aqui que eu te levo lá”. Fiquei no Jockey mais dois meses e voltei para Cotia, como lateral. Até que chegou o Nelson, técnico que me colocou como volante. Joguei nessa posição até os 17, 18 anos, quando voltei para a lateral com o André Jardine. É bom porque pode mudar o esquema do jogo sem ter de trocar jogador. Para mim, isso é vantajoso.

Agora São pouco mais de dois meses no time principal. Você se sentia pronto? Liziero A gente tem a expectativ­a de ser promovido, mas eu não esperava que fosse desse jeito. Do nada, me ligaram e disseram: “Vem treinar”. Você pensa: “Vou subir, ter uma adaptação”. Mas comigo foi diferente, subi e joguei. Depois de dois jogos, virei titular. A gente está na base e quer estar aqui, claro. Então, a gente joga pensando em chegar até aqui. Acho que eu estava preparado, sim. Senão não conseguiri­a me manter. Tem moleque que sobe com 17, 18 anos. Eu subi com 20, isso pode ter ajudado em alguma coisa. Cada um tem uma história. Não dá para todo mundo seguir do mesmo jeito.

Agora O que você tem como caracterís­tica que ainda não conseguiu fazer aqui? Liziero Eu gosto muito de dar arrancadas, eu que não consegui fazer ainda. Conduzir a bola, driblar, que era o que eu fazia na base. Aqui ainda é diferente, os caras têm mais força. O Diego Aguirre gosta que eu ultrapasse bastante, dê consistênc­ia na marcação. Ele me deixa à vontade.

Agora No último clássico contra o Santos, você não estava. Mas o São Paulo dominou e acabou levando o gol. A concentraç­ão precisa ser maior? Liziero Com certeza, clássico é no detalhe. A gente precisa estar 100% concentrad­o em cada dividida, em cada lance, principalm­ente perto da área. Porque, se der uma vacilada, eles podem fazer o gol. Claro que estamos invictos, mas incomoda [não vencer]. O que o São Paulo gosta é de vitória. Queremos vencer para subir na tabela. Clássico é um ótimo momento para isso, dá confiança. Estou motivado, é um jogo importante e precisamos vencer. Dá um nervoso antes, porque é normal, mas depois que rolou a bola você vai pegando confiança.

Agora Quem você tem como inspiração no futebol? Liziero Falcão [do futsal]. Eu via vídeos na internet e ficava quebrando as coisas lá em casa. Minha mãe ficava doida. Tudo eu queria fazer igual ele. Aí quando eu comecei a jogar no campo, via muito o Xavi no Barcelona.

Agora Você levou trote quando chegou no time principal, ficou careca. Até hoje eles mexem com você? Liziero Eles brincam até hoje, não tem jeito. Tem de dar lugar pra eles. “Moleque” para cá, “moleque” para lá. Agora meu cabelo já está crescendo, mas rasparam, fiquei feio pra caramba.

 ?? Rivaldo Gomes - 17.mai.18/folhapress ?? O volante Liziero, de 20 anos, deverá voltar ao time titular do São Paulo hoje; ele foi poupado contra o Bahia, e está pronto para ajudar em mais um clássico
Rivaldo Gomes - 17.mai.18/folhapress O volante Liziero, de 20 anos, deverá voltar ao time titular do São Paulo hoje; ele foi poupado contra o Bahia, e está pronto para ajudar em mais um clássico

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