Na Bolívia, sofre o pulmão, na Venezuela, dói o coração
A Libertadores e a Sul-americana, quarta e décima divisões da Liga dos Campeões, têm lá suas relativas importâncias, mas contribuem mesmo é para desnudar dois problemas muito sérios quando a imprensa esportiva consegue ver e sentir de perto o que ocorre lá. Falo do perigo de morte de um jogador de futebol visitante em La Paz e Potosí e da verdade escancarada da situação calamitosa pela qual passa hoje e há anos a coitada da Venezuela.
Venezuela, “um país árabe” na produção de petróleo e um Haiti na qualidade de vida. Mesmo já tendo “batido na trave” várias vezes, não sei como nesses anos todos não morreu ninguém tentando jogar bola nas alturas bolivianas. “Netamente falando”, jogador local joga com dois pulmões e o visitante com meio pulmão, se tanto.
Jogar lá, sem um bom período de adaptação, é irresponsável por parte da Conmebol e da Fifa. Vão esperar a morte de um jogador visitante para criarem coragem e vergonha na cara para coibir de vez essa “tortura futebolística”? Não prego o veto à Bolívia inteira, claro, mas de suas cidades “padrão” Monte Everest, exagerando um pouquinho.
E a Venezuela? O Grêmio ganhou lá de dois e o Corinthians de sete enfrentando jogadores com fome de bola e de estômago. Cobrindo Macabíada, fiquei por semanas em 1987 em Caracas e na Ilha Margarita, onde se fala o papiamento (língua crioula derivada a partir do português e de idiomas africanos com algumas influências do inglês, holandês e espanhol) e me apaixonei pelo país e pelo seu povo. Eles adoram o Brasil, nosso futebol e principalmente nosso voleibol.
Foram dias deliciosos no “Caracas Hilton” com atendimento inesquecível comandado pela chef Brígida, linda negra cubana escalada com sua equipe para atender a delegação brasileira de uns 70 membros. Ao contrário de hoje, em que os “chefs” Chávez e “presidento” Maduro fizeram a mágica de sumir com a comida do país, tudo era farto em Caracas. E a delegação brasileira foi comandada por Jack Leon Terpins que, coincidentemente, agora em maio de 2018 tornou-se em Jerusalém o novo presidente da União Mundial Macabi, a Fifa dos judeus.
Mas, hoje, menos pelas vitórias brasileiras, quero mesmo é dar parabéns ao Grêmio e ao Corinthians pela doação de alimentos e de dólares aos funcionários dos hotéis em que mal se hospedaram. Ficaram com dó da penúria deles e “acudiram”. Está aí outra obra do “presidento” Maduro: ao invés de o hotel alimentar seus hóspedes, são os hóspedes a alimentar seus famintos funcionários. E devemos ter “eleição” neste domingo por lá. O “presidento” deve ganhar na marra, mas, se perder, “não vale”. É uma vergonha!
E ele tem o “apoio” de Maradona, “o Che Guevara que não deu certo na política”. Burrice do “presidento”, porque Maradona não agrega valor a qualquer causa. Quisesse o apoio puro e eficaz, tentaria levar para seu palanque o Da Silva. Não é qualquer “Da Silva” que já tivemos no futebol, mas o santista de Santo André William da Silva, o ídolo do povo venezuelano que ama o voleibol.
Mas, enfim, se nas alturas da Bolívia não há pulmões que aguentem no futebol, na Venezuela o que aperta é o coração, como sentiram os bondosos gremistas e corintianos que saíram chorando de lá. É, Maduro, nessa toada um dia você também vai apostar corrida com seu chefe Hugo Chávez nadando no tacho do capeta. Mas, queira Deus, que logo termine o sofrimento de um povo tão bom e que os visitantes também voltem a curtir a paz, a tranquilidade e a beleza de Caracas. Tiro o chapéu para jogadores e dirigentes do Grêmio e do Corinthians (foto) pela filantropia que praticaram na Venezuela, doando dinheiro e comida ao sofrido povo de lá. Eles realmente merecem o “Bola Cheia” desta semana.