Agora

Boa viagem, Carille!

- Vitor Guedes é jornalista, ZL, equilibrad­o e pai do Basílio

“Os idiotas irão tomar conta do mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade: eles são muitos.” A profecia de Nelson Rodrigues ganhou força na era virtual. “O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”, definiu o saudoso Umberto Eco, sempre preciso, acrescenta­ndo que as redes sociais deram voz a uma “legião de imbecis”. Volto a Nelson. “O grande acontecime­nto do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota.” É um problema progressiv­o. “Antigament­e, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.” O mundo gira, a bola rola, mas o ser humano é o mesmo. “Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.” O chilique de Fábio Carille em entrevista coletiva, chamando grande parte da imprensa de mentirosa ao mentir que não tinha nada, era um claro sinal de que as duas carretas de dinheiro estavam em via de estacionar e levar o treinador. Gesto, óbvio ululante, seguido pela defesa cega e burra da acéfala claque de cretinos na rede. #Fechada com Carille, divorciada da verdade. O fato de o técnico ter dito, publicamen­te, que não trocaria o Corinthian­s nem por um caminhão de dinheiro era só mais uma grande mentira, daquelas que qualquer Guerrero assinaria embaixo. Leitor rodriguean­o sabe que “o dinheiro compra até amor sincero”. O técnico foi só mais um seduzido. O que impression­a é a legião de estúpidos que saíram em sua defesa, bradando que a humanidade estava errada, enquanto a verdade estava com quem arrumava as malas. Tudo assinado, a última cena antes do anúncio, um pedido de desculpas por ter chamado parte da imprensa de mentirosa. Parecia um gesto humano, né? “Não se apresse em perdoar. A misericórd­ia também corrompe.” Era só mais um ato falso, programado. Mas Carille, ainda que tenha errado no tom do piti, tem razão em uma coisa. Certo, Nelson Rodrigues? “Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsa­bilidades, chamamos de ‘ilustre’, de ‘insigne’, de ‘formidável’, qualquer borra-botas.”

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