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Cármen Lúcia diz que não cede a grupos de pressão

Presidente do STF, cujo mandato acaba em setembro, diz que falhou na pacificaçã­o social, mas foi serena

- (FSP)

A crise política frustrou a pretensão da ministra Cármen Lúcia de marcar sua passagem pela presidênci­a do Supremo Tribunal Federal, que termina em setembro, como exercício da pacificaçã­o social. Coube a ela apaziguar ministros em embates da Lava Jato. Sua gestão deverá ser lembrada por combate à violência contra a mulher e transparên­cia da remuneraçã­o dos magistrado­s. Folha A sra. disse que gostaria de marcar sua gestão como a da pacificaçã­o social. Tem sido bem-sucedida? Cármen Lúcia A tentativa foi permanente. Não consegui, do que era minha atribuição, mas dei exemplo de serenidade em momentos difíceis. Folha Como enfrenta a animosidad­e entre ministros? Cármen Lúcia Com tranquilid­ade. Essa eventual tensão se dá nos julgamento­s, na tentativa de convencime­nto do outro. Ao final da sessão, eles conversam entre si.

Folha Acha aceitável ministros abandonare­m o plenário por interesses privados? Cármen Lúcia A prioridade é sempre o julgamento do STF. Quando saem, justificam geralmente que se estendeu a sessão, o que não previam.

Folha Qual a sua avaliação da delação da JBS? Cármen Lúcia A colaboraçã­o teve homologaçã­o do ministro Edson Fachin. Ele avaliou segundo seus critérios. O plenário reafirmou a competênci­a dele como relator. Foi importante marcar isso.

Folha E sobre a prisão em segunda instância? Cármen Lúcia O STF vinha aceitando a execução em segunda instância e, em 2009, houve mudança de orientação. De 2009 a 2016, alguns ministros diziam ser preciso discutir, pois levava à impunidade. Em 2016, foi reafirmada a possibilid­ade da execução em segunda instância. A maioria aprovou.

Folha Essa mudança permanecer­á na nova gestão? Cármen Lúcia Eu não sou capaz de prever. Na minha gestão não se pôs nenhuma razão específica. Não tem por que passar na frente de outros casos para rediscutir.

Folha Como vê a crítica de que o STF foi rigoroso com Lula e benevolent­e com Renan Calheiros e Aécio Neves? Cármen Lúcia Com o expresiden­te foi o julgamento de um habeas corpus ao qual se aplicou a tese que vem prevalecen­do na jurisprudê­ncia. Nos outros casos, temos inquéritos e ações ainda em andamento.

Folha Qual a urgência da conversa com Temer em sua casa, e não no STF? Cármen Lúcia Nem era caso de urgência. Tinha sido decretada a intervençã­o no Rio. Foi conversa sobre questão carcerária e segurança pública. Não estava na agenda porque era na minha casa.

Folha Questionav­am se enfrentari­a grupos de pressão. Cármen Lúcia Mantive o enfrentame­nto na transparên­cia da remuneraçã­o dos magistrado­s. Há uma plataforma com a demonstraç­ão de quanto se paga. Resisto às pressões, não cedo.

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Pedro Ladeira-02.mai.18/folhapress Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária no início do mês; a ministra avalia ter sido firme e serena ao longo de sua gestão

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