A morte de Hawilla
Conheci pessoalmente o J. Hawilla no Detran, ali pelo final dos anos 70. Antes, eu só o ouvia pela Rádio Bandeirantes como o segundo repórter-volante, distante do “Olho Vivo” Roberto Silva, o titular. Hawilla procurou a mim e ao saudoso Franz Netto para licenciar e emplacar o seu carro novo. J. Hawilla queria uma placa com a sigla JH. Walter de Moraes Machado Suppo, diretor-geral do Detran, também hoje no céu, deu a Hawilla a sua placa alfanumérica solicitada.
Creio que nunca mais vi J. Hawilla, até 1999. Aliás, além de 1982, o marco do nascimento do “Terceiro Tempo”, 1999 é um ano referencial em minha vida profissional. À época, eu já era o “bão” disparado do estúdio esportivo, mas queria também entrar na TV. Como escrevi aqui outro dia, tentei na Gazeta, na Manchete e na Cultura. Não fui mal, mas nocauteado, fritado e dispensado sem explicação. Olhares de esgueio em sacristias de igrejinhas em confessionários de padres amigos, por parte de “companheiros laterais de bancada”, abortaram meu sonho de ser comentarista de “Mesa Redonda”.
Não deu certo, mas dou graças a Deus! Tivesse dado, tomaria fácil o comando daqueles bons espaços e talvez não tivesse aparecido a santa Band em meu caminho. A Band mudou a minha vida, hoje já completamente realizada, estabilizada, exageradamente.
Enfim, fiquei fora da TV. Mas aí, em 1999, J. Hawilla e Johnny Saad conceberam o “Projeto Band-traffic”. Foi um agito geral! O esporte na Band passou a ser de Hawilla e uma equipe precisava ser formada a toque de caixa. Além dos jogos com Luciano do Valle, é claro, a cereja do bolo de Hawilla era o “Supertécnico” a ser exibido nas noites de domingo. “Supertécnico” que Hawilla concebeu na “Pizza do Faustão”, na casa do apresentador, ao ficar entusiasmado com as histórias contadas por 15 treinadores.
Mas e o apresentador do “Supertécnico”, quem seria? “Deu briga” no jantar-reunião. Ruy Pinheiro Brisola Filho queria Flávio Prado, Hawilla só falava em Fernando Vannucci, técnico Candinho não abriu o bico, Hélio Sileman defendia César Filho e Luxemburgo opinou: “Qualquer um menos o Milton Neves, que só briga comigo no ar e é muito metido”. Aí, o saudoso Amir Michel Farha, amigão de Hawilla, ponderou: “Ora, Milton Neves é o melhor disparado”. Mas Hawilla não concordou alegando: “Sei que o Milton é bom, mas fala demais e na TV a linguagem é outra”.
“Ouviu-se” um silêncio, e o Ruy Brisola meneou a cabeça em direção ao mestre Marcos Lázaro sugerindo que ele devesse também opinar. Hawilla sacou e perguntou: “E aí, mestre Marcos Lázaro, o que você acha?”. Marcos Lázaro respondeu: “Yo solo escucho a Milton Neves (eu só escuto o Milton Neves)”. Pronto, fui contratado no outro dia e de espécie de Careca (do Guarani-78) do rádio esportivo virei pelo menos um lateral-esquerdo titular do Fla, do Timão ou até da seleção.
E toda essa história é só para dizer muito obrigado à Band, a Ruy Brisola, a Amir Michel Farha, a Sileman, a Marcos Lázaro e fundamentalmente a J. Hawilla. Sim, “a morte tem o poder de uma mão de ausência que a tudo perdoa e apaga”, diria o poeta. Mas não concordo com isso e muito menos com os imensos erros já assumidos por J. Hawilla. Só que a tudo isso respondo com uma outra frase feita por alguém: “A gratidão é a primeira virtude do homem e base de todas as demais”. E eu não poderia nesta hora ser covarde ou ignorar o que o hoje falecido e condenado Hawilla fez por mim. Honestamente ele me contratou, honestamente ele me lançou na TV, honestamente, como tudo em minha vida de 50 anos de microfone, para ele e para a Band trabalhei e concluo dizendo a J. Hawilla o meu eterno muito obrigado. Carille (foto) foi o melhor custo-benefício da história do Corinthians! Afinal, o treinador, que recebia um salário modesto, deu ao Timão nada menos do que um Brasileiro e dois Paulistas. Agora, que seja muito feliz na Arábia Saudita. O palmeirense pega no pé de Borja, mas quem está mesmo devendo bom futebol no Verdão é Deyverson (foto). Incrível como o atacante não consegue aproveitar as raras oportunidades que ganha do técnico Roger Machado.