Obra de hospital continua sem avançar na cracolândia
Construção provocou a retirada de 160 famílias que viviam no local. Operários estão sem trabalhar
Dois meses após remover mais de 160 famílias do entorno da cracolândia (região central) para uma obra que já tem ao menos quatro anos de atraso, a construção do Hospital Pérola Byington está mais uma vez parada.
Desde a última semana, não há no canteiro de obras, que demole os imóveis da quadra, nem homens trabalhando nem maquinário, segundo relataram moradores da região e operários da construção. A paralisação foi constatada pela reportagem na manhã de ontem.
Funcionários relataram que foram orientados de que a obra não voltaria antes de agosto. A obra é considerada polêmica porque moradores, Defensoria Pública e Promotoria acusam o governo de não ter cumprido o rito necessário para a remoção de famílias e demolição dos imóveis —o estado nega.
A obra, em formato de PPP (parceria público-privada), é tocada pela Inova Saúde, da Construcap, empreiteira arrolada na Lava Jato, que teve no último mês o executivo Roberto Capobianco condenado pelo juiz Sergio Moro a 12 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Equipes de fiscalização do TCE (Tribunal de Contas do Estado) encontraram “possíveis irregularidades” na obra do Pérola Byington, mas o processo ainda não foi julgado pelo tribunal.
O quarteirão onde o hospital será construído é uma Zeis (Zona Especial de Interesse Social), classificação do plano diretor da cidade para áreas onde há favelas, comunidades pobres etc.
Nessas zonas, qualquer mudança deve ser aprovada por um conselho gestor, formado por moradores e governo. Defensoria Pública e Promotoria afirmam que o conselho foi formado às pressas e que as remoções aconteceram antes de qualquer deliberação, o que o estado nega.
Em julho de 2014, quando o governo anunciou o vencedor da licitação, disse que o contrato seria assinado em 60 dias e que as obras seriam concluídas até 36 meses depois disso —ou seja, até setembro de 2017. Não foi o que ocorreu. Como houve atraso na remoção de moradores, o novo prazo para que a construção seja concluída é de até 36 meses depois do término das demolições —ou seja, pelo menos até 2021.
Resta ainda um imóvel habitado. É uma pensão que abriga mais 30 pessoas.