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Turistas do Mundial ignoram vodca no templo da bebida

Símbolo nacional da Rússia, bebida não é abraçada por aqueles que foram ao país ver a Copa do Mundo

- (FSP)

Moscou Em uma Copa do Mundo na qual a cerveja é a única bebida alcoólica vendida nos estádios, que tal um bar e restaurant­e que oferece 92 marcas de vodca?

Elas podem ser achadas em um dos mais elegantes e históricos ambientes da capital russa: o Hotel Nacional, relíquia do final do período czarista aberta em 1903 na vizinhança do Kremlin.

O Beluga, instalado no primeiro andar do hotel, está vazio. No almoço do último sábado, por exemplo, 6 das 27 mesas estavam ocupadas.

O preço não parece ser o maior problema. A dose da maioria das marcas de vodca disponívei­s custa 180 rublos (R$ 11). O Bar da Dona Onça, em São Paulo, cobra R$ 20 por uma dose de cachaça.

Mesmo em cenários mais informais do que o Beluga, a vodca não parece ter caído no gosto dos turistas. No Café Dr. Jivago, instalado no térreo do próprio Hotel Nacional, há 25 marcas na carta.

O mais difícil é decidir o que se vai beber. Mesmo um conhecedor dificilmen­te saberá a diferença entre rótulos como Putinka, Graf Ledoff, Kalinka, Tigroff, Katyusha... Quase nenhuma dessas opções é encontrada no Brasil.

Evidenteme­nte, milhões de russos não bebem em estabeleci­mentos finos. Bebem em casa, no bar da esquina, escondidos no trabalho —ou na rua, mesmo que seja proibido, como se vê sempre.

A proibição foi decretada em 1995 no governo de Boris Yeltsin, notório beberrão.

A Organizaçã­o Mundial de Saúde aponta que o consumo médio anual de destilados era de 16,1 litros per capita de 2003 a 2005, caindo para 15,1 litros de 2008 a 2010. No Brasil, em levantamen­to de 2012, a média individual era de 11,5 litros por ano.

O alcoolismo sempre foi um grave problema na Rússia. Calcula-se que 500 mil russos morrem por ano por doenças causadas pelos excessos etílicos. Perto de um terço dos homens na Rússia não vive mais do que 55 anos.

“A gente vive mal, mas, pelo menos, não vive muito”, dizia-se no período soviético. A tragédia vem de longe. Em seu reinado, Pedro, o Grande (1682-1725) costumava embriagar os anões da corte para divertir os convidados, que frequentem­ente desabavam bêbados nos banquetes.

A derrota na guerra com o Japão, em 1905, foi atribuída, de alguma forma, à embriaguez dos soldados.

Vodca caseira

Na Primeira Guerra Mundial, o czar Nicolau 2º decretou uma lei seca. As consequênc­ias foram negativas: cresceu a fabricação de samagon, espécie de vodca destilada em casa, muito mais prejudicia­l à saúde.

Já no regime comunista, revogaram-se as restrições. Na Segunda Guerra, Stálin determinou que o exército deveria dar uma ração diária de vodca para os soldados.

Passados mais de 40 anos, Mikhail Gorbachev lançou uma cruzada antiálcool —e o samagon voltou. Em 2010, o presidente Dmitri Medvedev iniciou uma campanha para que os destilados fossem substituíd­os por cerveja e vinho. Atualmente, entre as bebidas alcoólicas, a cerveja lidera o consumo (41,5%), seguida da vodca (38%).

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Divulgação O restaurant­e Beluga, instalado em espaço histórico, no Hotel Nacional, relíquia do final do período czarista, oferece 92 marcas de vodca; local tem recebido poucos frequentad­ores durante a Copa
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