Vice dos EUA visita refugiados venezuelanos em Manaus
Entidades católicas criticam política migratória adotada pelo governo de Donald Trump
No último dia de sua passagem pelo Brasil, o vicepresidente dos EUA, Mike Pence, visitou um abrigo em Manaus que acolhe imigrantes venezuelanos.
O local, que foi adaptado para receber famílias inteiras e, assim, não forçar a separação de pais e filhos, está entre os que podem ser beneficiados pela doação de mais de US$ 1 milhão (R$ 3,8 milhões) prometida por Pence para iniciativas de acolhida a refugiados venezuelanos no Brasil —o vice não fixou prazos para a liberação da verba, entretanto.
Nem o prefeito de Manaus, Artur Neto (PSDB), nem o governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PDT), participaram do evento. O primeiro reclamou das exigências do protocolo de segurança, e o segundo se reuniu com ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, que está dando consultoria para um plano de segurança pública para o governo.
Para o padre Orlando Barbosa, coordenador da Cáritas Arquidiocesana de Manaus (que administra o abrigo Santa Catarina de Sena), a visita não atendeu as expectativas. “Ele trouxe um discurso político imperialista e usou a fala dos próprios imigrantes para criticar o governo venezuelano. Não é só uma visita humanitária, e é isso que nos deixa atônitos. Mas a importância desse encontro está em mostrarmos que nenhum país precisa fechar as portas nem construir muros para a cultura e as pessoas de outros países”, afirmou ele.
A ida de Pence ao abrigo em Manaus também gerou uma nota pública de entidades católicas que acolhem refugiados no Brasil.
O Serviço Pastoral do Migrante Nacional, o Serviço Pastoral do Migrante da Arquidiocese de Manaus e a Congregação Scalabriniana afirmaram que o vice americano representa um governo que constrói muros e separa crianças de seus pais.
“Esse gesto do governo Trump está longe de ser humanitário e de [denotar] preocupação com os direitos humanos. Remete-nos a uma política de controle e colonialismo constante dos EUA com a América Latina”, diz a nota pública.
A visita ao abrigo Santa Catarina de Sena acontece em meio à repercussão negativa da política de tolerância zero do governo Trump contra a imigração ilegal, que resultou na separação de mais de 2.000 crianças dos pais (todos imigrantes ilegais), entre elas estão pelo menos 51 brasileiras.