Empresa de coronel Lima ficou à disposição de Temer
Delegado da PF mostrou indícios em relatório que pedia a prorrogação de prazo do inquérito
O delegado Cleyber Malta Lopes, da Polícia Federal, afirmou em relatório enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) que a estrutura financeira da Argeplan, empresa do coronel João Batista Lima Filho, foi colocada à disposição de “demandas da vida pública e privada” do presidente Michel Temer.
A afirmação foi feita no pedido de prorrogação, por 60 dias, do inquérito que apura se empresas do setor portuário pagaram propinas ao presidente em troca de benesses no governo.
Lima é apontado como arrecadador de vantagens indevidas para o amigo emedebista. Entre as medidas sob suspeita, está a assinatura, por Temer, de decreto que permitiu a prorrogação de concessões portuárias para até 70 anos.
Ex-assessor do presidente, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures foi flagrado em telefonemas negociando benefícios ao setor na edição da norma. Para a PF, não há dúvidas de que as alterações do decreto, encampadas por Loures e editadas por Temer, “extrapolavam a regularidade, estendendo benefícios ilegais às empresas”.
O relator do caso no Supremo, ministro Luís Roberto Barroso, autorizou ontem a continuidade das investigações até que a PGR (Procuradoria-geral da República) se manifeste. Não há prazo.
Para o delegado, “os elementos colhidos indicam que a Argeplan e sua estrutura financeira e funcional, por diversas vezes, foi colocada em atendimentos de demandas da vida pública e privada”.
O relatório é a primeira manifestação oficial dele ao Supremo após uma série de depoimentos colhidos pela Polícia Federal.
“Temos que as buscas e apreensões e demais elementos trazidos aos autos também demonstraram dezenas de ligações da Argeplan, seus sócios e outras empresas interligadas, diretamente, com a vida política e privada do senhor Michel Temer”, escreveu.
Segundo o relatório, os vínculos de Lima com Temer ganham “mais relevância” por causa dos serviços prestados pela empresa do coronel na reforma da casa de Maristela Temer, filha do presidente, alvo do mesmo inquérito. Ele destacou suposta contradição entre os depoimentos dela e de fornecedores. Segundo contratados para a obra, as despesas somaram ao menos R$ 1,3 milhão. Ela declarou ter gasto R$ 700 mil.
Para investigadores, a origem do dinheiro são propinas pagas em 2014 pela J&F, holding que controla a JBS, além de desvios de um contrato firmado pela Eletronuclear com uma empresa ligada ao coronel.