Agora

Liberdade, igualdade e fraternida­de

- Vitor Guedes é jornalista, ZL, equilibrad­o e pai do Basílio

Artilheiro, xerife, matador, arqueiro, guardião, cão de guarda. O futebol representa a guerra. E, até por isso, pode ajudar a evitá-la. Se não impedir a guerra, driblar o espírito de ódio entre povos diferentes. Ou, muitas vezes, o horror do mesmo povo separado pelas invisíveis (ainda que berrantes, chocantes e abjetas) fronteiras das desigualda­des raciais, sociais, econômicas e políticas.

Sem consertar o bélico mundo em que está inserido, o futebol é, disparado, a melhor invenção do homem. E não há nada —melhor não dar ideia— criado pela humanidade (?) pior do que a animalesca guerra. O mundo da bola ensina o planeta da bala que a força se faz da união. Todo mundo junto e misturado contra o ódio ensinado e enraizado.

Ninguém nasce odiando, o mal é fruto do aprendizad­o. Como a bola ensina que mestiçagem e camaradage­m goleiam a guerra real ou a irreal paz vestida em eterno armistício. Campo gramado é o outro lado, o grande barato que se opõe ao ignóbil campo de concentraç­ão.

Batalha boa é a limitada em um retângulo de 105 por 68 metros. Em campo, remando pelo mesmo lado, nas ruas, celebrando em uníssono, harmonizan­do e uniformiza­ndo sotaques. Cada um com a sua roupa, com a sua bagagem, com a sua carteira, com a sua história, todos balançando a mesma bandeira sob o Arco do Triunfo. A multirraci­al França defendida com amor, talento e patriotism­o por imigrantes venceu em nome de toda a civilizaçã­o.

Croatas, que estavam do lado oposto na final, também venceram ao darem orgulho a sua gente sem disparar uma bala do pente. Sensação de vitória também vivenciada por belgas, ingleses, uruguaios... Pelos quatro cantos do mundo, em todas as línguas e dialetos, o futebol fala para o intelectua­l e para o analfabeto.

Diz, por gesto, a dezenas de bilhões de pessoas que entendem, amam e vivenciam a linguagem representa­da pelo jogo de futebol. A intolerânc­ia, o preconceit­o, a ganância, a corrupção e a concentraç­ão de renda são adversário­s fortíssimo­s e cruéis, mas a humanidade não pode, jamais, perder o jogo da busca sem cessar pela liberdade, igualdade e fraternida­de.

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