Agora

Aos 67 anos eu não perdi nada, ganhei tudo com Deus e um microfone

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Cheguei em São Paulo em 1972, desci na Paulista e parei na Pamplona vindo da Rodoviária Júlio Prestes. São 46,5 anos de São Paulo! Cheguei de Muzambinho-mg e fui até a “Pensão do Dalton Gaspar” em um velho casarão da Alameda Jaú. Tinha 20 anos e estava perdidinho da silva e da vida.

Mais tarde aluguei, um de cada vez, é lógico, dois pequenos apartament­os na Aclimação, porque antes já estava morando em um porão. À época, tinha passado no vestibular da SUPERO. Era “Comunicaçã­o Social” e, como colegas, destaque para Paulo Rachid Saab, Ricardo Carvalho, Ubirajara Valdez e ... Oscar Maroni.

Dois meses depois, fui impedido de entrar para as aulas por uma severa fiscal-porteira. Ela foi correta porque eu devia os dois meses iniciais do curso, mesmo já sendo elogiado pelos professore­s Luciano Ornelas e Miguel Jorge. Minha tia Antônia, professora primária, coitada, não tinha como me manter.

Chorei e Ricardo Carvalho, Paulo Saab e Bira Valdez viram e me puxaram para a garagem. Ficamos esperando Jorge Brihy ou João Carlos Di Genio. E apareceu logo o Di Genio. Só deu tempo para ouvir o pedido de bolsa com os três dizendo que eu tinha futuro. Com o elevador quase subindo, Di Genio falou: “Grandão, vá na Jovem Pan, fale com o Fernando Vieira de Mello e diga que eu te mandei”.

Fui e gravei um teste. Era só uma lauda apanhada aleatoriam­ente. E gravei! “Evitem a Celso Garcia, tudo parado por lá devido a um acidente entre um táxi e um ônibus da Auto Viação do... Pare”, falei. Fernando foi verificar a gravação e ali ouvi a primeira de uma das 2.873 broncas que levei dele.

“Não é ‘Pare’, burro, é ‘Pari’! Mas está contratado. E não encha mais o saco”, esbravejou! “Mas ‘cumé ki é o negócio’”, perguntei. E ele: “Gostei de você falar ‘negócio’, do ‘Pare’, tem voz boa e você vai para o Detran”. “Mas o que vou fazer?”, questionei. “Você vai ser repórter de trânsito pelas ruas e no Detran”, me respondeu. “Mas eu não conheço nenhuma rua de São Paulo”, balbuciei. “Então vai para a ‘pqp’! Vire-se, moleque, estude!”, ralhou para mim e piscando para Marco Antônio Gomes. Era o sinal de “contratado”! Ufa!

E voltei às aulas com dinheiro emprestado pelo saudoso muzambinhe­nse Marino Campedelli. Foi meu início e o resto tem para todo lado no meu livro e aí pela internet da vida.

E andei pensando nisso tudo às portas de meus 67 anos. Foram 67 anos bons demais, alicerçado­s no esforço, no imponderáv­el e no muito improvável. E eu seria muito feliz mesmo só com 7% do realizado, efetivado, conseguido, obtido e suado. Na Pan foram 33 anos sem vale-transporte e/ou de refeição. E na metade do tempo precisava demais.

Obrigado, Deus, Jesus, tias, mãe, avós, esposa, filhos, Di Genio, Objetivo, Fernando Vieira de Mello, Jovem Pan, Seo Tuta (mesmo tão infeliz a ponto de minha saída de lá ter sido por despedida indireta), Luís Antônio Piccolo e Seo Adhmar da Rede Zacharias, Paulinho Gonçalves, Osmar Santos, Marcos Arbaitman, Francesco Giuliano, J. Hawilla, Johnny Saad, Dênis Munhoz, Bispo Honorilton, Luciano Calegari, Marcelo Mainardi, Mário Baccei, Johnny Saad mais uma vez e obrigado também a todos os jogadores de futebol do mundo.

E hoje só peço para Deus duas coisas: saúde para minha família e um CD contendo tudo de todos os atletas de qualquer esporte do mundo e de todos os jornalista­s esportivos dos últimos 100 anos. Aí, o meu “Que Fim Levou?”, paixão da minha vida, ficará completo! Tenho para mim que Lincoln (foto), herói do Fla na última quarta, será melhor que Vinícius Júnior. E que o Flamengo siga investindo em sua base e deixe de contratar “refugos”, como fez com Denílson Show em 2000. Simplesmen­te lamentável o descontrol­e de Diego Souza (foto) na primeira derrota do São Paulo no Morumbi sob o comando de Aguirre. Que o atacante sãopaulino receba um gancho exemplar pela agressão!

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