Administradoras de planos crescem na crise
Empresas que vendem planos coletivos se multiplicaram desde que ANS regulou o mercado de convênios
Empresas que atuam como intermediárias entre planos de saúde e clientes têm expandido suas operações pelo país. As chamadas administradoras de benefício têm como atribuição fechar o contrato entre o beneficiário e a operadora, emitir boletos e negociar reajustes, entre outras. São companhias como Qualicorp, Aliança e Allcare, entre outras.
De 2009, quando a atuação delas foi regulamentada pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), até junho deste ano, elas passaram de 22 para 140 empresas. A receita delas, de 2011 a 2017, aumentou 146%, passando de R$ 665 milhões para R$ 1,6 bilhão, em valores corrigidos pela inflação.
O crescimento ocorreu inclusive nos anos de 2015 e 2016, quando os planos perderam clientes devido à recessão. Os dados constam do mais recente Prisma Econômico Financeiro da Saúde Suplementar, publicação trimestral da ANS que, pela primeira vez, destaca esse setor.
Mercado em expansão
As administradoras se beneficiam da expansão do mercado de planos coletivos no Brasil. Um dos fatores que explica isso é que, como a ANS não estabelece limite de reajuste para os coletivos, eles têm um leque de ofertas maior e preços mais atrativos. Quem precisa de um plano, mas não tem o benefício pelo trabalho, recorre aos planos por adesão.
Eles são intermediados por administradoras com contratos tanto com sindicatos tradicionais como com entidades que reúnem grupos genéricos como o de profissionais liberais.
Para ter o plano, o consumidor se vincula a uma dessas entidades. Para críticos, é uma “adesão simulada”. “Qualquer gestão que não mova uma palha para regular esse mercado ajuda [as administradoras]”, diz Mário Scheffer, da USP, que mapeou, junto à professora Lígia Bahia, da UFRJ, o fenômeno do crescimento das administradoras no país.
Os dois apontam duas resoluções da ANS como determinantes para o crescimento das administradoras. Elas foram publicadas em 2009 e permitiram a atuação dessas empresas na venda de planos coletivos e estabeleceram suas responsabilidades.
Sem interferência
Em nota, a ANS afirmou que as administradoras já existiam e que sua atuação teve o objetivo de organizar o serviço, que é facultativo.
A agência disse entender que as administradoras podem ajudar na negociação dos reajustes com as operadoras, pois um aumento muito alto poderia acarretar fuga de clientes para as administradoras. A interpretação, porém, não é consenso. Como as administradoras são remuneradas por modelos que incluem um percentual da mensalidade, pode haver conflito de interesses, analisa Rafael Robba, advogado do escritório Vilhena Silva.