Agora

Barriga de aluguel

Portuguesa usa clube para fazer dinheiro, conseguir se manter em atividade e evitar fechar as suas portas

- Alexandre de aquino

Com uma dívida estimada na casa dos R$ 350 milhões e defendendo-se de mais de 60 ações trabalhist­as, que fazem com que as contas do clube sejam penhoradas, o presidente da Portuguesa, Alexandre Barros, encontrou um caminho para poder fazer com que o Lusa sobreviva: alugar a área do Canindé.

A ideia é a que ainda sustenta o clube e ajuda a pagar os salários mensais de funcionári­os e de jogadores.

Atualmente, a Lusa aluga o ginásio de esportes para a Igreja Renascer, além da churrascar­ia voltada para a marginal Tietê. Nestes dois casos, o dinheiro vai diretament­e para os credores.

Há também contrato com uma empresa que administra um estacionam­ento.

Agora, o mais novo projeto para gerar dinheiro com seu espaço fez com que o clube apostasse no aterrament­o de suas piscinas, inaugurada­s em 1965. A ideia é reformar o local e montar a Feirinha da Madrugada, com ambulantes, que trabalham de forma ilegal nas ruas do Brás, utilizando o espaço da Lusa.

Além dos aluguéis fixos, o clube ainda trabalha com outros tipos de eventos como, por exemplo, shows.

Existem, inclusive, duas datas reservadas do estádio para os dias 5 e 9 de setembro, quando a equipe enfrentari­a Taboão da Serra e Atibaia, respectiva­mente, pela Copa Paulista. Em entrevista ao Agora, Barros falou sobre usar o espaço do Canindé para pagar contas. Agora No futebol, deixar de jogar em casa é ruim. Por que alugar o Canindé? Alexandre Barros É o que mantém a gente enxugando o gelo. Pode acontecer de alguns jogos não serem no estádio por causa de eventos. Se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come. É a receita que entra para pagar a folha do mês. Se eu mantiver o jogo aqui, tenho uma despesa de R$ 22 mil que eu vou ter em outro lugar. A diferença é que aqui não vou ter a receita para pagar o mês. O que você escolhe?

Agora Como está o projeto da Feirinha da Madrugada? Alexandre Barros A Portuguesa vai alugar uma área. Estamos fazendo todos os trâmites legais possíveis para desembarga­r a obra [parada por falta de alvará] e para que a feirinha aconteça.

Agora Quando inaugura? Alexandre Barros A previsão era 8 de junho, depois 23. Depois dia 2 de julho, 17, 4 de agosto. Agora é 25. Pode passar para setembro.

Agora Não teme prejudicar a imagem do clube? Alexandre Barros Cria-se um mito grande. A Feira da Madrugada não é a rua Santa Ifigênia, nem a rua 25 de Março. Não tem eletrônico na Feira da Madrugada.

Agora Mas é roupa. Eles falsificam grandes marcas... Alexandre Barros O forte deles não é a falsificaç­ão. O forte deles é a confecção em alta escala, sem a marca. O forte é vender a calça jeans que não tem marca para o interior de São Paulo ou do Brasil. O cara vai comprar por R$ 8 aqui e vender a R$ 35. A determinaç­ão da Portuguesa é que não vai ficar ninguém na ilegalidad­e aqui dentro.

Agora Fala-se em R$ 500 mil para a Portuguesa. Alexandre Barros Seria o melhor dos mundos. Na verdade, é R$ 75 mil de aluguel. E depois, mais R$ 75 mil por uma outra área, o que nos daria R$ 150 mil.

Agora Quantos sócios tem hoje a Portuguesa? Alexandre Barros 120 mil.

Agora Quantos pagam? Alexandre Barros São 700 e mais 6.000 sócios remidos.

Agora Qual o atrativo para ser sócio hoje da Lusa? Alexandre Barros Esse número caiu já faz tempo, não na minha gestão. O mundo mudou. Antes, os clubes eram a praia do paulistano. Existiam poucos shoppings. Aí vieram os condomínio­s com piscina, quadra, sauna, academia. Nenhum clube se adaptou a isso. Não tem mais atrativo. Mas aqui tem o pessoal que faz hóquei sobre patins, futsal, patinação artística, tem um pessoal que vem na academia, que tem 50 ou 60 pessoas. Para fazer isso, precisam ser sócios.

Agora Como é fazer futebol hoje na Portuguesa? Alexandre Barros Muito difícil. Essa é a realidade financeira, muito ruim. Os bloqueios continuam sendo sempre os mesmos. São ações trabalhist­as. Conseguimo­s acordo com aqueles cinco jogadores. Cota da Federação Paulista, outro tipo de cota, renda de jogos, tudo bloqueado. A gente já sai atrás dos outros clubes.

Agora Hoje qual a situação? Alexandre Barros Os jogadores estão em dia. Os funcionári­os ainda tem um mês atrasado. Houve um trabalho forte junto ao Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo para liberar os bloqueios das cotas da Federação antigas. Aí fizemos um acordo para liberação, para poder pagar os funcionári­os, mesmo aqueles que já haviam saído do clube.

Agora Teme perder o Canindé em algum leilão? Alexandre Barros Não. Essa possibilid­ade é remota ou quase inexistent­e. Tem que injetar dinheiro para pegar o lugar depois de cinco, seis, dez anos. Ninguém bota seu dinheiro para esperar dez anos para investir. Quem arrematar só terá no leilão uma metade. O clube é detentor de outra parte do terreno, que é a concessão da Prefeitura de São Paulo. O estádio fica no meio. Haveria uma briga judicial por isso.

 ?? Robson Ventura - 5.jun.18/folhapress ?? As piscinas da Portuguesa são aterradas para se montar no terreno a Feirinha da Madrugada; obras foram embargadas por falta de alvará, mas clube tenta regularizá-lo para concluir a reforma e alugar o espaço
Robson Ventura - 5.jun.18/folhapress As piscinas da Portuguesa são aterradas para se montar no terreno a Feirinha da Madrugada; obras foram embargadas por falta de alvará, mas clube tenta regularizá-lo para concluir a reforma e alugar o espaço
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Rubens Cavallari - 3.ago.18/folhapress

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