Famílias temem moradias populares na cracolândia
Sorteados para morar nos edifícios erguidos pelo governo de SP têm resistência em se mudar para a região
O governo de São Paulo ergueu na cracolândia cinco prédios de moradia popular, com 914 apartamentos no total, e pretende construir mais três (mais 288 apartamentos). O complexo Júlio Prestes, fruto de uma parceria público-privada, é vitrine do candidato à presidência Geraldo Alckmin (PSDB).
Dois dos prédios começaram a receber moradores em junho —167 chaves foram entregues . Os selecionados, por sorteio, estavam na fila da habitação, com exigência de haver algum membro da família trabalhando no centro e renda familiar de até seis salários mínimos —o financiamento das moradias é subsidiado, e os moradores pagam prestações a partir de R$ 239 ao mês.
Muitos apartamentos, no entanto, ainda estão vazios. Quem vive lá fala em mais da metade desabitados. E mesmo quem se mudou relata receio com a vizinhança.
No governo de São Paulo, a resistência à mudança já era esperada quando os projetos foram elaborados. Oficialmente, a Secretaria da Habitação, hoje sob gestão Márcio França (PSB), diz que o processo de aprovação da documentação e do financiamento dos apartamentos demanda tempo e que a ocupação acontece de forma contínua. A expectativa é de que todos os prédios estejam ocupados até o fim do ano. “À medida em que mais famílias ocuparem as torres, o próprio uso dos espaços públicos do entorno pelos residentes deverá gerar um processo de transformação da região”, diz o governo.
O local é um canteiro de obras, onde, além dos prédios, haverá uma escola de música, creche, mercado e lojas. Por enquanto, há tapumes e cercas de arame farpado. O projeto do governo é que aquela seja uma área aberta à circulação, sem separação da rua —o que é visto com receio por parte dos novos moradores.