Embora parecidos, Trump e Bolsonaro têm diferenças
A posição mais ideológica e falta de apoio político do brasileiro os separam, segundo especialistas
Durante a campanha, o candidato prometeu que, em seu governo, “não existirá o politicamente correto”, que o país deixará o Acordo de Paris sobre o clima, criticou a imprensa “fake news” e a China e disse que, no que depender dele, “todos terão porte de arma de fogo”.
A descrição poderia se referir à campanha do hoje presidente dos EUA, Donald Trump, mas as declarações foram dadas no último ano por Jair Bolsonaro, candidato do PSL ao Planalto.
À medida que a campanha avança, as menções a Trump têm se tornado cada vez mais frequentes. Na última semana, em Porto Alegre, Bolsonaro repetiu que Trump “está fazendo a América grande” e que brasileiros que moram nos EUA “estão felizes com ele” —segundo a última pesquisa Gallup, 54% desaprovam seu governo.
No entanto, apesar da clara tentativa de Bolsonaro de aproximar seu discurso da retórica do americano —seja no viés nacionalista e em defesa da família, nas críticas à ONU ou na linha dura sobre segurança—, especialistas dizem haver “diferenças profundas” entre os dois casos.
Sem apoio
A principal delas se refere ao apoio político. Trump, cuja candidatura inicialmente não foi levada a sério por líderes do Partido Republicano, acabou tendo que ser respaldado pela legenda —que, com o Partido Democrata, domina o sistema bipartidário do país.
Bolsonaro, por sua vez, é candidato pelo nanico PSL e conseguiu uma única aliança, com o também pequeno PRTB. A ausência de apoio pesará na viabilidade de um eventual governo dele.
“Trump, ou pelo menos o Partido Republicano, controla hoje as duas casas do Congresso. Isso não será nem de longe o caso de Bolsonaro se ele for eleito”, diz Riordan Roett, professor da Universidade Johns Hopkins.
Outra diferença, segundo os especialistas, é que as posições de Bolsonaro têm fundo ideológico, diferente de Trump, visto como mais oportunista. Na prática, isso significa que o candidato brasileiro poderia ser um presidente menos flexível.
“Bolsonaro é conduzido por crenças ideológicas e religiosas muito profundas, enquanto Trump é totalmente pragmático”, afirma Roett.
Nada, porém, aproxima mais os dois políticos que seus eleitores. “Eles apelam ao eleitorado que se sente frustrado com o sistema político atual. Eles usam essa raiva de forma semelhante”, diz Filipe Carvalho, pesquisador em Washington.