Acusado era ausente, segundo família
Montes Claros Homem que atraiu os olhares de todo o país após atacar o candidato Jair Bolsonaro, Adelio Bispo de Oliveira, 40, é um típico retirante de Montes Claros, que deixou a cidade-pólo mais nordestina de Minas Gerais ainda na adolescência, em busca de emprego em São Paulo. Desde então, segundo os parentes mais próximos, ele só aparecia em raras ocasiões, como festas de fim de ano. Ia embora deixando poucas pistas de si próprio e muito estranhamento.
Falava bastante sozinho, mas pouco com os outros. Nas temporadas que passava na sua cidade, não raro trancava-se por dias num dos barracões da família, mesmo sob o calor escaldante do norte mineiro. Não mencionava relacionamentos amorosos.
Perdia horas em frente à TV, vidrado com noticiários, e fazia esparsos comentários sobre reportagens relacionadas a políticos. Reclamava da classe em geral, mas gostava do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A parentes ouvidos pela reportagem contou sobre sua filiação ao PSOL de Uberaba (MG), de 2007 a 2014.
“Ele não pedia voto a ninguém. Só falou comigo, uma vez, que queria ser deputado, porque aí podia trabalhar em várias cidades”, afirma a auxiliar de serviços gerais Maria Inês Fernandes, 48, cunhada de Bispo, que o conheceu ainda menino.
Ela é companheira de Aldeir Ramos, 51, irmão mais velho do algoz de Bolsonaro, com quem divide uma casa simples no bairro Santo Antônio, periferia de Montes Claros. Os dois tiram o sustento de um bazar de roupas doadas e de um barzinho ermo.
Ao ver o ataque pela televisão, após anos de ausência do cunhado, Maria Inês relata que se ajoelhou e orou para que Bolsonaro resistisse ao ferimento, até para “não complicar” Bispo. “Creio que foi um surto que deu nele. Ele não tem aquele olho arregalado, horroroso.”
Filho de um gari com uma varredora de rua, os quais perdeu ainda na juventude, Bispo tem quatro irmãos que vivem em Montes Claros e em lugarejos nos arredores.