Agora

Imperturbá­vel

- Marcos Guedes

“Canta, Imperatriz!”, ordenava o puxador Arthur Franco, quando recebia o sinal de que vinha a bossa da bateria. Esta, nesse momento, parava brevemente de tocar. E o próprio intérprete se calava, deixando os demais componente­s da escola de samba verde e branca soltarem a voz: “A luuuz”.

Era um dos mais bonitos momentos do desfile da agremiação de Ramos, que no Carnaval deste ano cantou o bicentenár­io do Museu Nacional. Como que sinestesic­amente, a pronúncia da palavra por milhares acendia “a luz dourada do amanhecer”, que abria as portas do velho palácio ao povo.

No último domingo, a luz dourada foi outra, implacável. Eram as chamas que consumiam milhões de anos, destruindo dinossauro­s, múmias e cristais. Luzia, a mais velha brasileira, resistiu por 12 milênios, mas seu esqueleto não suportou o descaso com que a história vinha sendo tratada.

No cenário de devastação, chamou a atenção o imperturbá­vel meteorito Bendegó. Enquanto tudo ruía ao seu redor, a peça de 5,6 toneladas permanecia firme, impassível em sua força bruta.

Ficou para ver que o incêndio perdeu rapidament­e o posto de notícia da vez. Um candidato a presidente foi esfaqueado enquanto era carregado por correligio­nários.

Anteontem, partiu o genial Wilson Moreira, capaz de musicar belamente bulas de remédio, como dizia o parceiro Nei Lopes. Não roubou as manchetes do político com o intestino perfurado, mas deu mais uma mostra de que tudo pode mudar rapidament­e.

Só resistem forças como Bendegó, por mais que tentem lhe botar fogo.

O Palmeiras fala em escalar reservas. O Corinthian­s só tem reservas. Mas amanhã tem Dérbi, e o Dérbi é Bendegó. Não acabará nem 40 minutos depois de tudo.

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