Engraxates resistem ao tempo no centro da capital
Região concentra profissionais. Alguns passaram a vender ou consertar sapatos para ganhar mais
Antes encontrados em vários pontos de São Paulo, os engraxates aos poucos estão sumindo da cena paulistana, concentrando-se principalmente na região central. Na tentativa de manter a profissão, muitos se dividem entre consertar e vender sapatos e assim continuar com a arte de lustrar os calçados.
Ricardo Gadiani de Oliveira tem 51 anos e é engraxate desde os 14 anos. O pai dele, José Gadiani de Oliveira, mais conhecido como Jura, foi um dos engraxates mais populares de São Paulo.
“O primeiro sapato que eu engraxei foi exatamente nesta loja. Era um cliente com um sapato de cromo cor de vinho. Na hora me senti confiante, pois já via o trabalho dos profissionais. Tomei gosto pela coisa e trabalho com isso até hoje”, diz.
Mas atualmente, diz Gadiani, não é possível viver só das engraxadas, que custam R$ 12 e demoram aproximadamente 15 minutos. Preocupado com a queda do movimento, que ele atribui ao estado em que o centro da capital se encontra, ele expandiu o negócio e hoje tem, além da cadeira de engraxate, uma sapataria na rua 11 de Agosto. “Não é nem pelo valor. O que mais dá prazer é pegar um sapato surrado, e depois ver o prazer da pessoa em ver o sapato brilhando. Muitos clientes do meu pai ainda vêm aqui. A graxa tem esse romantismo”, afirma.
Psicólogos
Por atuar em uma área onde muitos advogados e juízes circulam, ele ganhou o apelido de desembargador. Mas foge do rótulo. “A cadeira do engraxate é o lugar mais democrático que existe. Todo mundo fala o que quiser. Muitas vezes atuamos como psicólogos dos clientes”, finaliza Gadiani .