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Prédio centenário é invadido por 300 famílias na Mooca

Tombado, imóvel de 108 anos abrigou antiga tecelagem. Sem-teto estão no local há dois meses

- Elaine granconato

Um imóvel particular com 108 anos, tombado pelos órgãos do patrimônio estadual e municipal, na rua da Mooca, no bairro de mesmo nome da zona leste da capital, foi invadido por sem-teto.

Cerca de 300 famílias, muitas com crianças, de acordo com os sem-teto, se dividem na área de 16 mil m2 do terreno que abrigou a antiga fábrica de tecidos Labor e, nos anos 2000, a Fabbrica 5, uma balada que tinha como sócios o apresentad­or Gugu Liberato e o ator Miguel Falabella. Entre os sem-teto estão estrangeir­os, como haitianos e bolivianos.

Hoje, no interior do galpão principal do prédio onde funcionári­as teciam lã e algodão nas imponentes máquinas a vapor do início do século passado, o espaço é dividido entre varais com roupas penduradas, barracos de madeira, puxadinhos de lonas plásticas e até construçõe­s em alvenaria erguidas com tijolos baianos. Os semteto utilizam a água e a luz do imóvel desativado, que pertence à família Mahfuz.

Giovana de Oliveira, 35 anos, mãe de sete filhos, com idade entre 2 e 19 anos, se identifico­u com uma das organizado­ras da ocupação, que teve início há cerca de dois meses em parte do imóvel. “Não pertencemo­s a nenhum movimento de moradia”, diz, ao relatar, no entanto, que tem 20 anos de ocupações em São Paulo.

“Dias atrás, a gente desocupou outro prédio no Centro e viemos pra cá. É sempre assim, já que o governo não faz nada por nós”, afirma.

Tijolos

A vida do haitiano Jonathan Charles, 33 anos, não tem sido diferente. No Brasil desde 2014, ele conta que deixou o aluguel de R$ 600 pra trás, enquanto erguia as paredes de alvenaria do cômodo de outro amigo.

Questionad­o se não era arriscado investir em tijolos e cimento para construir algo que pode ser tomado pelo proprietár­io depois, outro haitiano, respondeu por ele. “Aqui não tem dono. Era tanta dívida que ficou tudo para o governo”, afirma. Apenas haitianos fazem construçõe­s em alvenaria, inclusive em toda área do primeiro andar de um dos galpões do imóvel.

 ?? Rivaldo Gomes/folhapress ?? Homem ergue paredes em galpão da antiga fábrica de tecidos Labor, na rua da Mooca (zona leste de SP); imóvel de 16.000 m2 é tombado por órgãos de defesa e preservaçã­o do patrimônio estadual e municipal
Rivaldo Gomes/folhapress Homem ergue paredes em galpão da antiga fábrica de tecidos Labor, na rua da Mooca (zona leste de SP); imóvel de 16.000 m2 é tombado por órgãos de defesa e preservaçã­o do patrimônio estadual e municipal
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