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Aflito, tenso e evitado por aliados, Aécio tenta reescrever sua biografia

- (FSP)

Aécio Neves (PSDB) cantarola um hino de Minas Gerais, canção de Almir Sater. “Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais”, entoa meio sem jeito. “Grava não, hein?”

Gravou e publicou em suas redes sociais um vídeo em que o senador fala de uma gama de assuntos como sua fama de “pegador” (“na verdade, fui namorador”) e suas supostas preferênci­as alimentare­s (“Feijão em cima, né? Não existe feijão embaixo do arroz. Se possível, com um ovo frito, gema mole”).

Entre uma amenidade e outra, toca no assunto que é a verdadeira e única razão de estar ali: sua campanha para deputado federal.

“Me orgulho de poder constatar que, para cada R$ 1 investido nas regiões mais ricas, investimos R$ 2 nas regiões mais pobres, em especial na área da saúde”, afirma o ex-governador de Minas por dois mandatos.

Depois de conquistar 51 milhões de votos na eleição presidenci­al de 2014, 3,5 milhões a menos que a vencedora, Dilma Rousseff (PT), o tucano está, ainda que disfarce nas redes, aflito e tenso, de acordo com interlocut­ores. Aécio tem inseguranç­a quanto aos 80 mil votos de que precisa para se eleger.

Para atingir a meta, mira regiões pobres do estado, os vales do Mucuri e do Jequitinho­nha, onde o pai, Aécio Cunha, fez carreira.

Aliados intuem que o motivo da inquietaçã­o é uma ambição, embora redimensio­nada, persistent­e. Quer não só se eleger, mas ser o mais votado de MG, para começar a reescrever sua biografia, como vem dizendo. Desde que foi delatado por Joesley Batista, denunciado por corrupção e tornado réu no Supremo, o senador se recolheu. Não quis falar e evita aparecer em público.

Evita e é evitado. Seu antigo afilhado político e sucessor Antonio Anastasia (PSDB) estabelece­u como uma das condições para disputar de novo o governo de Minas que Aécio não fosse candidato à reeleição no Senado. Considerou que, com tamanha rejeição, o levaria à derrota.

O constrangi­mento é explorado pelos adversário­s. O governador Fernando Pimentel (PT) levou ao ar uma propaganda em que pessoas associam Anastasia a Aécio como goiabada a queijo.

A resposta veio com o slogan “Anastasia é Anastasia”.

Na quarta, em Contagem, ao lado do presidenci­ável Geraldo Alckmin (PSDB), Anastasia foi questionad­o sobre o antigo aliado. “Aécio é candidato a deputado federal, não a governador ou à Presidênci­a”, respondeu e mudou de assunto.

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