Agora

Reação conservado­ra e antipetist­a alavanca o rival

- Mauro paulino alessandro janoni

Diretor-geral do Datafolha Diretor de pesquisas do instituto

Os dados divulgados pelo Datafolha confirmam a tese, já apontada pelo instituto em análises anteriores, de que o cresciment­o do PT nas intenções de voto alimenta também seu antagonist­a, Jair Bolsonaro (PSL).

A expressiva ascensão de Fernando Haddad (PT) na pesquisa de sexta-feira passada, além de nova mídia espontânea no último final de semana, em função das manifestaç­ões pró e contra sua candidatur­a, permitiram ao deputado capitaliza­r o discurso antipetist­a e não só intensific­ar apoio em segmentos onde já encontrava entusiasta­s como garimpar eleitores em estratos que mais o rejeitam.

A simpatia por sua candidatur­a ficou ainda mais forte no Sul, entre os mais ricos e mais escolariza­dos, mas também se espraiou para estratos de menor renda, para o Nordeste e no segmento feminino.

Bolsonaro continua rejeitado por metade das mulheres do país, e sua taxa de intenção de voto no estrato continua muito mais baixa do que no segmento masculino, mas, depois do final de semana, o índice das que pretendem elegê-lo subiu seis pontos.

Ao se combinar variáveis demográfic­as e econômicas, percebe-se que esse cresciment­o foi de 10 pontos percentuai­s entre as mulheres com renda mais alta, porém se mostra significat­ivo também em estrato de maior peso na composição do eleitorado —entre as mulheres com até dois salários mínimos, subiu cinco pontos percentuai­s.

Uma hipótese para o fenômeno é o grau de identifica­ção de subconjunt­os femininos com valores das que se mostraram nos últimos dias contra ou a favor de Bolsonaro.

Um exemplo é que homens e mulheres de famílias nucleares, isto é, casados e com filhos, tendem a votar muito mais no candidato do PSL. Já entre as mães solteiras, Haddad lidera com folga: o apoio ao petista chega a 29% contra 14% do ex-deputado.

O vetor religioso também ganhou holofotes em função da declaração de apoio do bispo da Igreja Universal, Edir Macedo, a Bolsonaro. Porém, por enquanto, não há evidência de migração expressiva de evangélico­s para o candidato por conta disso —o capitão reformado já era o mais votado pelo segmento.

Nos últimos 20 dias, Haddad oscilou positivame­nte três pontos nesse grupo, que responde por um terço do eleitorado. Mas vale aí a observação: nenhum outro estrato do país é tão evangélico quanto as mulheres com renda de até 5 salários mínimos.

Entre os católicos, que são 55% dos brasileiro­s, a diferença do candidato do PSL para o petista, no entanto, é de apenas 4 pontos percentuai­s. Com tais registros simbólicos propagados pelo noticiário na TV, propaganda­s eleitorais e especialme­nte redes sociais, a reação do eleitorado se dá praticamen­te em tempo real, potenciali­zada pelo sentimento de desalento e inseguranç­a nesta eleição.

A maioria dos brasileiro­s tem conta em algum desses serviços de comunicaçã­o instantâne­a e considera como um dos mais importante­s fatores para a decisão do voto algo que esse tipo de veículo facilita: a conversa com familiares, amigos e colegas.

E para se ter ideia da diferença do grau de ativismo dos eleitores de cada candidato nesse tipo de rede, a taxa dos que pretendem votar em Bolsonaro e que compartilh­am conteúdo político pela mais rápida delas (Whatsapp) é o dobro da verificada entre eleitores de Haddad (40% contra 22%).

Com o movimento, apoiadores de Bolsonaro sonham com vitória no primeiro turno. Para isso, ele tem que alcançar cerca de 45% do total de votos nos próximos dias, consideran­do a taxa histórica de 10% de brancos e nulos.

Para evitar em escala nacional o que lhe ocorreu na disputa pela reeleição em São Paulo, Haddad precisa calibrar os códigos de comunicaçã­o da campanha com estratos de importante peso e que se mostram mais indecisos ou desiludido­s, como as mulheres, os menos escolariza­dos e de menor renda, em quatro dias, e sem a ajuda de seu padrinho político.

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