Agora

Estranhos no ninho

- Luís Marcelo Castro

Estive recentemen­te em Presidente Prudente, no oeste do estado de São Paulo. Em frente à churrascar­ia, um vendedor exibia em seu varal os cavalinhos do Fantástico com camisas de Corinthian­s, São Paulo, Palmeiras, Flamengo e até Barcelona. Perguntei se ele tinha o equino representa­nte do Grêmio Prudente, hoje o único clube da cidade, que disputa a quarta divisão estadual.

“Não tenho. Aqui ninguém dá muita bola para o Grêmio, não vende”, respondeu. De fato, só 127 torcedores acompanhar­am a última partida do Touro, eliminado sem uma única vitória.

Infelizmen­te, não pude conhecer o Prudentão, palco de grandes clássicos nas últimas décadas. Foi onde o Fenômeno festejou seu primeiro gol pelo Corinthian­s e Neymar anotou seu centésimo pelo Santos. Mas ouvi relatos que o estádio é pouco utilizado e está cheio de problemas. Não há um museu, uma lanchonete, uma visita guiada...

Esse descaso em relação aos times do interior —e de outras cidades médias e pequenas do país— não é exclusivid­ade de Prudente. Quando o Audax chegou à decisão do Paulistão, em 2016, não havia camisas à venda. Antes, quando o Grêmio Osasco era o time da cidade, cansei de ver ambulantes perambulan­do no Rochdale vendendo camisas piratas, simplesmen­te porque não tinha a original disponível. Em Barra do Garças (MT), só a loja do presidente do clube vendia a rara peça.

Para colecionad­ores, é uma situação tão inconcebív­el quanto a ausência de um DVD do violeiro Almir Sater no mercado.

Enquanto isso, pululam camisas de Juventus, Real Madrid e PSG nas esquinas de qualquer cidade. Cada vez mais brasileiro­s visitam a Bombonera, o Centenário ou o San Siro.

Já passou da hora, até para engordar o caixa, de olhar com mais carinho para a própria casa.

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