Estranhos no ninho
Estive recentemente em Presidente Prudente, no oeste do estado de São Paulo. Em frente à churrascaria, um vendedor exibia em seu varal os cavalinhos do Fantástico com camisas de Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Flamengo e até Barcelona. Perguntei se ele tinha o equino representante do Grêmio Prudente, hoje o único clube da cidade, que disputa a quarta divisão estadual.
“Não tenho. Aqui ninguém dá muita bola para o Grêmio, não vende”, respondeu. De fato, só 127 torcedores acompanharam a última partida do Touro, eliminado sem uma única vitória.
Infelizmente, não pude conhecer o Prudentão, palco de grandes clássicos nas últimas décadas. Foi onde o Fenômeno festejou seu primeiro gol pelo Corinthians e Neymar anotou seu centésimo pelo Santos. Mas ouvi relatos que o estádio é pouco utilizado e está cheio de problemas. Não há um museu, uma lanchonete, uma visita guiada...
Esse descaso em relação aos times do interior —e de outras cidades médias e pequenas do país— não é exclusividade de Prudente. Quando o Audax chegou à decisão do Paulistão, em 2016, não havia camisas à venda. Antes, quando o Grêmio Osasco era o time da cidade, cansei de ver ambulantes perambulando no Rochdale vendendo camisas piratas, simplesmente porque não tinha a original disponível. Em Barra do Garças (MT), só a loja do presidente do clube vendia a rara peça.
Para colecionadores, é uma situação tão inconcebível quanto a ausência de um DVD do violeiro Almir Sater no mercado.
Enquanto isso, pululam camisas de Juventus, Real Madrid e PSG nas esquinas de qualquer cidade. Cada vez mais brasileiros visitam a Bombonera, o Centenário ou o San Siro.
Já passou da hora, até para engordar o caixa, de olhar com mais carinho para a própria casa.