Agora

O gol acabou

- Marcos Guedes

Os estelionat­os estão na moda. Pouco importa que o produto oferecido não seja o mesmo colocado à venda. O importante é concluir a transação, mesmo que ela seja baseada em premissas ou notícias falsas.

O carro pode ter 28 anos de estrada. Depois de comprá-lo como seminovo, você terá dificuldad­e para contestar o acordo se tiver sido suficiente­mente tolo para assiná-lo.

Pois uma nova forma de estelionat­o chegou de vez ao futebol. É possível que lhe digam que seu time fez um golaço decisivo —o que lhe daria direito a celebraçõe­s ridículas— e, dois minutos mais tarde, avisem-no de que você fez papel de bobo.

O gol de Pedrinho na última quarta-feira, (mal) anulado tardiament­e, foi assim. No estádio de Itaquera, torcedores do Corinthian­s vibraram com a certeza do título da Copa do Brasil. Fora dele, passaram por situações ainda mais constrange­doras.

Um amigo da coluna, Alex, empolgou-se em um bar e atirou cocos na direção da rua. Sim, cocos. Outro, Juca, correu em transe e torceu o joelho operado. O velho Raul não fez nada desse tipo. Apenas festejou, tranquilo, à sua maneira, antes de reclamar com o filho: “Não se pode mais comemorar nem um puto de um gol”.

São relatos reais, como há muitos outros. Eles mostram o que se esquece, com frequência, em toda a discussão sobre o bizarro árbitro de vídeo.

Deixemos para lá o fato de que a imensa maioria dos lances no futebol é interpreta­tiva —e, portanto, sem solução inconteste pelas imagens. Ignoremos que esse esporte tem um ritmo bem particular, atrapalhad­o pelas interrupçõ­es além das habituais. Não falemos nem da aberração que é ativar a câmera lenta para buscar infrações em um jogo de contato.

Observemos apenas a mais triste consequênc­ia da novidade tecnológic­a. O gol acabou.

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