O gol acabou
Os estelionatos estão na moda. Pouco importa que o produto oferecido não seja o mesmo colocado à venda. O importante é concluir a transação, mesmo que ela seja baseada em premissas ou notícias falsas.
O carro pode ter 28 anos de estrada. Depois de comprá-lo como seminovo, você terá dificuldade para contestar o acordo se tiver sido suficientemente tolo para assiná-lo.
Pois uma nova forma de estelionato chegou de vez ao futebol. É possível que lhe digam que seu time fez um golaço decisivo —o que lhe daria direito a celebrações ridículas— e, dois minutos mais tarde, avisem-no de que você fez papel de bobo.
O gol de Pedrinho na última quarta-feira, (mal) anulado tardiamente, foi assim. No estádio de Itaquera, torcedores do Corinthians vibraram com a certeza do título da Copa do Brasil. Fora dele, passaram por situações ainda mais constrangedoras.
Um amigo da coluna, Alex, empolgou-se em um bar e atirou cocos na direção da rua. Sim, cocos. Outro, Juca, correu em transe e torceu o joelho operado. O velho Raul não fez nada desse tipo. Apenas festejou, tranquilo, à sua maneira, antes de reclamar com o filho: “Não se pode mais comemorar nem um puto de um gol”.
São relatos reais, como há muitos outros. Eles mostram o que se esquece, com frequência, em toda a discussão sobre o bizarro árbitro de vídeo.
Deixemos para lá o fato de que a imensa maioria dos lances no futebol é interpretativa —e, portanto, sem solução inconteste pelas imagens. Ignoremos que esse esporte tem um ritmo bem particular, atrapalhado pelas interrupções além das habituais. Não falemos nem da aberração que é ativar a câmera lenta para buscar infrações em um jogo de contato.
Observemos apenas a mais triste consequência da novidade tecnológica. O gol acabou.