Agora

Entidades civis veem ameaça em discurso de Bolsonaro

Para ONGS, candidato desrespeit­a lei ao incitar violência, ataques a jornalista­s e prisão de rivais

- Géssica brandino (FSP)

O discurso do candidato à Presidênci­a Jair Bolsonaro (PSL) anteontem a apoiadores fere os princípios da Constituiç­ão de 1988, afirmam organizaçõ­es não governamen­tais ouvidas pela reportagem.

Com larga vantagem na intenção de voto para o segundo turno, disputado neste domingo, Bolsonaro afirmou que se eleito “vagabundo vai ter que trabalhar e deixar de fazer demagogia junto ao povo” e disse que mandará para a cadeia seu opositor, Fernando Haddad (PT).

“Vocês, petralhada, verão uma polícia civil e militar, com retaguarda jurídica pra fazer valer a lei no lombo de vocês”, afirmou, acrescenta­ndo que as “Forças Armadas serão altivas” e que ações do MST serão tipificada­s como terrorismo.

Para o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, o teor remete a 1968. “Ele faz discurso desconecta­do do que está previsto na nossa Constituiç­ão em termos de garantias de direitos, usurpando funções que são da Polícia, do Ministério Público e do Judiciário. Ele precisa olhar o debate político com olhos de 2018 e não com olhos de 1968, ano do AI-5”, disse, em alusão ao decreto da ditadura.

Diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques diz que Bolsonaro ignora a função das instituiçõ­es e faz promessas vazias. “A Polícia Civil e a Polícia Militar trabalham no Brasil com retaguarda jurídica dada pela Constituiç­ão. Não há nada que um presidente possa fazer a mais que a Constituiç­ão já prevê. Há uma incitação e promoção de ideia de que nada funciona.”

Segundo o diretor-adjunto da ONG de direitos humanos Conectas, Marcos Fuchs, o candidato do PSL “desafia os princípios de associação e assembleia garantidos pela Constituiç­ão, a qual o próximo presidente da República deve obrigatori­amente se submeter”, afirmou, citando direitos que só são subtraídos em estados de exceção.

Jornalista­s

Associaçõe­s de jornalista­s repudiaram os ataques de Jair Bolsonaro à imprensa e afirmaram que eles ameaçam a democracia, além de mostrar incompreen­são quanto à função.

“Sem mentiras, sem fake news, sem Folha de S.paulo. Nós ganharemos esta guerra”, disse Bolsonaro.

Marcelo Rech, presidente ANJ (Associação Nacional de Jornais) e vice-presidente do Fórum Mundial de Editores disse que o teor das declaraçõe­s revela ignorância.

Em nota, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) diz esperar que a “incontinên­cia verbal do candidato em relação à Folha” se restrinja ao calor do momento. Para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigat­ivo, políticos preferem impor o discurso que lhes convém.

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John Filo - 4.mai.70/ap

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