Entidades civis veem ameaça em discurso de Bolsonaro
Para ONGS, candidato desrespeita lei ao incitar violência, ataques a jornalistas e prisão de rivais
O discurso do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) anteontem a apoiadores fere os princípios da Constituição de 1988, afirmam organizações não governamentais ouvidas pela reportagem.
Com larga vantagem na intenção de voto para o segundo turno, disputado neste domingo, Bolsonaro afirmou que se eleito “vagabundo vai ter que trabalhar e deixar de fazer demagogia junto ao povo” e disse que mandará para a cadeia seu opositor, Fernando Haddad (PT).
“Vocês, petralhada, verão uma polícia civil e militar, com retaguarda jurídica pra fazer valer a lei no lombo de vocês”, afirmou, acrescentando que as “Forças Armadas serão altivas” e que ações do MST serão tipificadas como terrorismo.
Para o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, o teor remete a 1968. “Ele faz discurso desconectado do que está previsto na nossa Constituição em termos de garantias de direitos, usurpando funções que são da Polícia, do Ministério Público e do Judiciário. Ele precisa olhar o debate político com olhos de 2018 e não com olhos de 1968, ano do AI-5”, disse, em alusão ao decreto da ditadura.
Diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques diz que Bolsonaro ignora a função das instituições e faz promessas vazias. “A Polícia Civil e a Polícia Militar trabalham no Brasil com retaguarda jurídica dada pela Constituição. Não há nada que um presidente possa fazer a mais que a Constituição já prevê. Há uma incitação e promoção de ideia de que nada funciona.”
Segundo o diretor-adjunto da ONG de direitos humanos Conectas, Marcos Fuchs, o candidato do PSL “desafia os princípios de associação e assembleia garantidos pela Constituição, a qual o próximo presidente da República deve obrigatoriamente se submeter”, afirmou, citando direitos que só são subtraídos em estados de exceção.
Jornalistas
Associações de jornalistas repudiaram os ataques de Jair Bolsonaro à imprensa e afirmaram que eles ameaçam a democracia, além de mostrar incompreensão quanto à função.
“Sem mentiras, sem fake news, sem Folha de S.paulo. Nós ganharemos esta guerra”, disse Bolsonaro.
Marcelo Rech, presidente ANJ (Associação Nacional de Jornais) e vice-presidente do Fórum Mundial de Editores disse que o teor das declarações revela ignorância.
Em nota, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) diz esperar que a “incontinência verbal do candidato em relação à Folha” se restrinja ao calor do momento. Para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, políticos preferem impor o discurso que lhes convém.