Agora

Renato promete fazer frente ao Real

- Alex sabino luiz cosenzo (FSP)

O roupeiro passa pelo técnico do Grêmio, Renato Gaúcho, 56, e deixa um par de tênis para ser usado depois.

“O chapéu foi uma honra”, murmura o funcionári­o, antes de ir embora. O treinador aponta para ele com a cabeça e faz expressão de quem está acostumado com aquilo.

“Fizemos um jogo da comissão técnica. Ele [o roupeiro] foi brincar comigo no dois toques... Levou um chapéu”, diverte-se.

Em meados dos anos 1980, quando era astro do Flamengo, o malandro Renato ensaiou pedido para ser chamado de Renato Carioca. Não tinha como vingar.

Sua residência ainda fica no Rio (tanto que em Porto Alegre mora há dois anos em um hotel), mas não há como tirar o “gaúcho” do nome.

Ele se sente em casa no Grêmio. O que diz é lei. Não apenas pela história que construiu como jogador, herói do título mundial de 1983, mas pelo que fez a partir de 2016 como técnico. Foi campeão gaúcho, da Copa do Brasil, da Taça Libertador­es e da Recopa.

Faltou o Mundial. No ano passado, foi à final e acabou derrotado por 1 a 0 pelo estrelado Real Madrid.

“[Neste ano] eu, com meu elenco completo, faço frente ao Real”, promete.

Antes, tem de levantar de novo o troféu continenta­l. Hoje, às 21h45, faz o jogo de ida da semifinal contra o River Plate em um torneio que Renato reconhece ser complicado, mas sem a dificuldad­e existente quando ele era ponta-direita do clube gaúcho. A Libertador­es é mais tranquila hoje do que quando você era jogador? Renato Tinha de ser muito homem para jogar Libertador­es na minha época. Não tinha VAR [árbitro assistente de vídeo]. Não tinha árbitro atrás do gol. Era um canal de TV que passava os jogos e não havia antidoping. Você enfrentou muito marcador babando?‘ Renato Babando literalmen­te, comendo grama, sacaneando. Hoje a Libertador­es, comparada com a minha época, é mamão com açúcar. Vendo o Real Madrid atual, o Grêmio teria mais chances? Renato Precisamos ganhar primeiro a Libertador­es, mas eu, com o meu elenco completo, faço frente ao Real. Aborrecem as críticas de que o Grêmio foi muito defensivo na final do Mundial? Renato É muito fácil [falar]. Eu concordo que o Grêmio foi mal, mas não é que o time quis jogar daquela forma. Não tinha as peças. Nossos volantes [Arthur e Maicon] não estavam, e eles faziam o time jogar. O Real era o melhor time do mundo, mas pergunto: o que o melhor time do mundo fez ali?

Um gol de falta que passou no meio da barreira. Renato Se o Grêmio ganhar a Libertador­es, eles vão ter muito trabalho. [Na final de 2017] eu olhava para o lado, enquanto estava 0 a 0, e via o Zidane [então técnico do Real] coçar a careca. Com aquilo tudo no time dele. Pensei: “Se ele está coçando a careca, no meu lugar daria um tiro na cabeça”.

Na carreira de técnico, você pode conseguir as coisas que lhe escaparam como jogador, como ter participaç­ão importante em uma Copa do Mundo? [Renato foi ao torneio de 1990, mas jogou apenas quatro minutos] Renato Um técnico que diz não querer a seleção brasileira está mentindo. Quando? Não sei. Hoje a seleção está muito bem servida com o Tite. Eu tenho de continuar fazendo o meu trabalho. Meu sonho é ser campeão do mundo, coisa que não fui pela seleção. Eu confio no meu trabalho. Minha hora vai chegar.

Você não parece muito afeito ao vocabulári­o frequentem­ente usado por outros treinadore­s. Há uma nova terminolog­ia que foi batizada de “tatiquês”. Renato O que é isso? Expressões como “último terço”, “triângulo com base alta”, essas coisas. Renato É a pessoa querer inventar uma palavra diferente que é a mesma coisa de algo do passado. Não adianta falar bonito e não entender nada de futebol. Meu amigo, futebol é resultado. Qualquer um pode falar bonito. Mas você entende mesmo de futebol? Faz teu time ganhar, então. Já renderam muito suas frases sobre os técnicos que estudaram e os que não estudaram, suas críticas a quem se julga entendido pelos cursos feitos fora do país. Renato Serviu o chapéu para esses caras? Não tenho nada contra estudar. Mas não vem falar que o cara passa uma semana na Europa, volta e diz que foi estudar. Estudar o quê em uma semana? Na cabeça de alguns, o cara foi lá e voltou gênio. Nunca fui para a Europa estudar. Em dois anos, ajudei o Grêmio a ganhar quatro títulos.

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Lucas Uebel - 5.set.18/grêmio Fbpa/divulgação O técnico Renato Gaúcho, do Grêmio, crê que teria boas chances de superar o Real Madrid no Mundial

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