Número de moradores de rua chega a 20 mil em São Paulo
Houve aumento de 25% nos últimos três anos. Maus tratos, abandono e drogas são causas
O número de pessoas em situação de rua na capital paulista cresceu 25% nos últimos três anos, de acordo com a prefeitura. O levantamento anterior, publicado em 2015, apontava 15,9 mil pessoas nessa situação. Hoje, calcula-se que sejam 20 mil. Os números exatos devem ser conhecidos no ano que vem, com a realização do próximo censo. Durante uma semana, a reportagem percorreu vários pontos da cidade de São Paulo para ouvir as histórias dessas pessoas.
Letícia do Nascimento, 20 anos, teve que decidir a vida desde cedo. Aos oito anos, foi viver em um orfanato porque a mãe era alcoólatra, e o pai morreu atropelado por um trem. Foi transferida de uma instituição a outra. “Perdi a conta”, diz. Até que, em 2015, fugiu de vez.
Já viveu nas ruas de Cotia e da Vila Nova Cachoeirinha (zona norte), mas foi no centro onde mais circulou. Seu primeiro namorado, aos 17 anos, era ciumento. “Foi ele que me deu meu primeiro trago. Uma vez ele quase me jogou do viaduto e cortou o freio da minha língua.”
Há dois meses mora com Valdemir, 37 anos. Os dois são catadores. “Não consigo pegar muito peso, levo uns 25 kg”, diz ela. O produto vale cerca de R$ 7,50. “Um bloco de cinco [pedras de crack].” Da época dos orfanatos, sobrou o aparelho nos dentes. Ela ganhou o tratamento, que acabou não concluindo. Já tentou arrancar com um alicate, mas não conseguiu. “Resolvi deixar como está”, diz.
Já Maria Pereira, que vive na Luz, faz bicos na rua e junta R$ 8 por dia. Ela tem o apelido de Tia. Seu desejo era ouvir alguém falar de emprego. Com o dinheiro, Maria quer montar “seu cantinho”. Ela diz que não se sente compreendida por sua filha, apesar de amá-la. “É uma pessoa boa, mas não entende a vida de quem está na rua”, diz. Entre conhecidos, faz piadas e dá risadas. Chora também, principalmente quando não consegue dinheiro para se lavar
Também morador de rua, Alex vive na zona norte e diz que está sóbrio há um mês. “O crack é uma pedrinha que não tem preconceito e quer você só para ela”, diz.