Agora

O tempo parado é a razão dos idiotas

- Vitor Guedes é jornalista, ZL, equilibrad­o e pai do Basílio

Viver é melhor que sonhar. Cantou Elis. Dando voz a Belchior. Quem não queria ter um filho com o talento do bigodudo? Idos de 1976. Elisa, símbolo negro, feminino, periférico e popular, brilhava na arquibanca­da do Pacaembu. E, vencida a idade média e a escravidão, sonhava com o fim do jejum corinthian­o. Que viria só em 1977. Amanhã há de ser outro dia. Apenas um verso. Como sociedade, não vivemos como nossos pais. Pioramos, do avesso, reverso. Àquela altura, a vida não era branda, era dura, mas nós, como povo, queríamos viver, sentir e gozar as delícias de ser um eterno aprendiz. Hoje quem vive preexiste. Sente que falta a chancela de quem não viveu para existir. Tristeza angustiant­e. Mais importante do que viver e não ter a vergonha de ser feliz é registrar na rede antissocia­l que viveu e esperar o joinha alheio para curtir. Inferno, o sentimento são os outros. Paradoxal e especialme­nte de quem só vive para si e se lixa para quem está longe. Ainda que pobre, inclusive de espírito, não perceba que o Haiti também é aqui, logo ali. E muito mais perto da sua realidade do que Miami. Há perigo em cada esquina. Com o aval da vítima, que chancelou o discurso de quem primeiro atira. Não quiseram ver. Também morre quem atira, rapá. É óbvio, ululante, ainda que o aviso, reiterado, tenha sido inútil. A gente somos inútil. A ponto de apostar na violência para combatê-la e na ignorância para resolver a educação. Proibir, proibir, proibir. É proibido permitir. O povo não quer ir e vir. Quis voltar ao passado. Woodstock hoje não seria possível. Porque é proibido viver. Sem antes alguém constatar que vivemos. Ainda que a gente tenha sentido primeiro. Só sentimos e explodimos quando para os outros existimos. Invertemos a roda da história. Para a época da invenção da roda. A tecnologia deu voz à legião de imbecis. Que calou a voz da bola na rede. O gol, que sempre existiu, não existe mais. Não até os idiotas da objetivida­de (que continuam julgando com subjetivid­ade e errando) não referendar­em. Não há mais gozo nem impediment­o. O tempo é senhor da razão. De quem não tem razão de nada. E, com ou sem razão, acaba com o amor. O VAR é um lixo. Ele (também) não.

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