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Novo piloto de testes da Mclaren, Sérgio Sette Câmara entra na F-1 pensando em ajudar os brasileiro­s

- Alex sabino luciano trindade (Com FSP)

Na Fórmula 1, Sérgio Sette Câmara, de 20 anos, quer trilhar um caminho diferente do percorrido pelos brasileiro­s que recentemen­te deixaram a categoria, como Felipe Massa e Rubens Barrichell­o.

No momento em que, pela primeira vez após 49 anos, o Brasil não tem um representa­nte na principal categoria do automobili­smo, o mineiro anunciado na última terçafeira como piloto de testes da Mclaren quer não só garantir o seu espaço como também reabrir as portas para o país.

“Se um dia eu chegar à Fórmula 1, eu vou querer ser um padrinho para os pilotos brasileiro­s. Vou dar a maior força para eles”, diz Câmara, em entrevista ao Agora.

A carência desse apoio, no entanto, não o impediu de despertar o interesse da Mclaren durante a etapa de Macau da Copa do Mundo de F-3, no ano passado.

Naquela ocasião, ele largou na pole e travou disputa eletrizant­e com Ferdinand Habsburg até a última volta, quando o austríaco fez uma manobra mais agressiva e bateu no brasileiro a poucos metros da linha de chegada. Com isso, a vitória caiu no colo do inglês Daniel Ticktum. Mas a atuação do brasileiro ficou marcada.

“Quem anda bem em Macau, anda bem em qualquer lugar. É a pista mais difícil, mais encardida que eu já vi”, disse nesta semana o ex-piloto brasileiro Gil de Ferran, diretor esportivo da Mclaren.

Até ter a sua oportunida­de como piloto principal da escuderia, contudo, Sérgio vai se dividir em 2019 entre a F-2 e os testes na escuderia. Ele ainda precisa tirar a licença especial da F-1. Sérgio Sette Câmara Agora Outras duas equipes também demonstrar­am interesse em você. Por que optou pela Mclaren? Sette Câmara Primeiro porque é uma equipe de peso. Nas conversas, eles me deram muito carinho, mostraram que eles querem que eu me sinta confortáve­l, querem me apoiar, inclusive na Fórmula 2. Isso era o que mais me importava. Estar em uma equipe de Fórmula 1 como piloto de testes é ótimo, mas não seria se me atrapalhas­se na F-2, que é realmente meu foco. Na Mclaren, eles me deram tudo: a chance de focar na F-2 e eu ainda vou aprender com eles. Agora De onde vem essa consciênci­a uma vez que você tem apenas 20 anos? Sette Câmara Eu não tomo decisões sozinho. Tenho a ajuda de uma equipe, meu assessor [de imprensa], o Albert Resclosa, que é meu manager [gerente], e meu pai também. Nós nunca tomamos uma decisão sem consenso. Eu também acho que eu sou maduro para a minha idade, mas é porque eu tenho confiança nas decisões que são tomadas.

Agora Que avaliação que você faz da formação de jovens pilotos no país? Sette Câmara Infelizmen­te, uma das caracterís­ticas do automobili­smo é essa dependênci­a da parte financeira. Realmente é um esporte difícil de ingressar sem ter nada. Tem pilotos que conseguem fazer, mas, geralmente, só quando encontram um investidor muito cedo. Alguém, mesmo que da família, que possa fazer um investimen­to na carreira dele. Depois, é assim até na Fórmula 1. Ela não gira sem as empresas por trás. No começo, claro, foi a minha família que bancou.

Agora Como você avalia o trabalho da Confederaç­ão Brasileira na formação de pilotos para a F-1? Sette Câmara Eu vejo um trabalho muito bom. Muita gente critica, mas, na verdade, é muito difícil com a nossa moeda competir com os ingleses, por exemplo. Eles são um povo muito rico. E a Fórmula 1 é um esporte inglês se a gente analisar a categoria. Quase todas as equipes são inglesas. Então, eles usam a libra, os pilotos já estão lá.

Agora O fato de não ter um brasileiro na F-1 atrapalha? Sette Câmara Isso é uma motivação para mim. É uma responsabi­lidade legal de carregar. Isso me faz amadurecer mais rápido. Eu também vejo uma carência na galera, então eu quero ir bem por essas pessoas.

Agora Você teve algum conselho de ex-pilotos de F1, como Massa e Barrichell­o? Sette Câmara Não. Nunca tive contato dessa forma com eles, inclusive eu gostaria de ter mais. Se um dia eu chegar à Fórmula 1, eu vou querer ser um padrinho para os pilotos brasileiro­s. Vou dar a maior força para eles. Talvez, tenha algo que eu não vi ainda na Fórmula 1 que impeça de eles fazerem isso, mas eu não tive nenhum tipo de contato com eles.

Agora Quais são suas referência­s como piloto? Sette Câmara Cada vez mais esse negócio de estilo está acabando. Tudo no carro tem sensor, e eles não medem só as peças do carro, medem também como o piloto está trabalhand­o essas peças. Por isso, você consegue se aproximar da perfeição. Antigament­e não tinha isso. O piloto ia para a pistas às cegas. Mas, mesmo assim, eu me espelho em alguns pilotos pela atitude deles, como o Ayrton Senna, hoje o Fernando Alonso, o Daniel Ricciardo, o Nelson Piquet.

 ?? James Gasperotti - 31.ago.18/divulgação ?? O mineiro Sérgio Sette Câmara se prepara para disputar o GP de Monza da F-2; a partir do ano que vem, ele continuará competindo na categoria de acesso da Fórmula 1 e fazendo testes para a equipe Mclaren
James Gasperotti - 31.ago.18/divulgação O mineiro Sérgio Sette Câmara se prepara para disputar o GP de Monza da F-2; a partir do ano que vem, ele continuará competindo na categoria de acesso da Fórmula 1 e fazendo testes para a equipe Mclaren

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