Venezuelanos relatam roubos e agressões em albergue
Regras diferentes para refugiados e moradores de rua agravam tensão em abrigo municipal
Imigrantes venezuelanos instalados em um abrigo da Prefeitura de São Paulo, sob a gestão Bruno Covas (PSDB), relatam uma rotina de ameaças, agressões, roubos e uso de drogas. Eles estão no local há dois meses, após terem saído de Roraima por meio de um processo organizado pelo governo federal.
O problema se dá, segundo eles, pelo fato de terem sido abrigados em endereço destinado a também receber moradores de rua, no Butantã (zona oeste). Ao contrário dos moradores de rua, os imigrantes têm direito a passar o dia no albergue e não precisam sair na manhã seguinte e pegar fila no fim da tarde se quiserem pernoitar no endereço novamente.
Essa diferença, segundo os imigrantes, é um dos fatores que transformam o abrigo em um campo de batalhas. “Fazemos rodízio para sair. Enquanto um grupo vai procurar emprego, outro fica para vigiar as malas”, diz Maria Valéria Balera, 28 anos, que conta ter tido todos seus pertences roubados. Ela diz que se sente ameaçada por ser homossexual.
Inaugurado em setembro do ano passado, com capacidade para receber 238 pessoas por pernoite, o abrigo acolhe, cerca de 30 refugiados venezuelanos, e sempre está com lotação máxima.
Os refugiados relatam ainda reações xenófobas no abrigo. “Ouvimos o tempo todo que não deveríamos estar ali por sermos de outro país”, diz Alessander Hernandes, 33 anos, que já foi ameaçado de morte.
Já Alberto Castillo, 31 anos, afirma que se acostumou a despertar ao ouvir qualquer barulho depois de ter acordado por chutes e socos do seu companheiro de beliche. “Ele não falava nada, apenas me batia. Não reagi porque fiquei com medo de juntar mais gente”, diz.