Chatice moderna
O tempo não para. Nem volta. Não adianta estúpida revolta. Quem viu viu... E viveu. Bebeu, comeu. Não tinha essa patrulha policialesca contra a venda de bebidas para menor, não. Eu mesmo, garotinho de tudo, cansei de ir à venda, comprar fiado e voltar com vasilhames de cervejas para meus pais. E ainda ganhava cigarrinho de chocolate como prêmio pelo meu trabalho. Era mó barato. Tomei meus gorós e virei fumante anos depois disso, mas agora não vem ao caso. Fumava-se cigarro dentro do ônibus, do avião, do cinema e até na sala de aula sem qualquer frescura nem problema com a rapaziada politicamente correta da esquadrilha antifumaça. É claro que já existia gay. Mas não tinha essa frescura de hoje e eles sabiam o seu lugar e não se misturavam. Exatamente como as meninas que curtiam uma boa farra. Tinha a turma delas, que era das minas para beijar nos bailinhos da vassoura e, às vezes, na hora do recreio, mas elas tinham postura. E não se atreviam a andar com as meninas que eram para apresentar à mamãe e namorar. Cada um na sua, respeitando a diferença e o espaço do outro grupo. Agora não pode mais nada. Todo domingo no Show de Calouros tinha piada na televisão com gorda, traveco, preto, mulher e tudo que é tipo estranho... Nem por isso tinha mimimi e acusação de machismo, homofobia, preconceito, essa frescurada toda aí. Agora até o coitado do Silvio Santos entrou na mira dos malas da lacração politicamente correta. Onde já se viu pegar no pé de um velhinho de 87 anos que há anos canta que a pipa não sobe mais... É muita fronhice! Ou, sei lá, não seria preconceito contra o idoso? Ah se fosse o contrário... Eu, que morei um ano em Caraguá, cansei de ser zoado na praia por ser branquelo e por ter dado umas apeladas e ficado com umas baranguinhas no farofódromo do Porto Novo. Sei bem o que é preconceito ao contrário, mas melhor nem falar nada porque já viu, né... A vida está chata. O futebol, que imita a vida, também. Na minha época, transbordava urina dos banheiros fétidos e o torcedor não reclamava nem vinha com papinho de cliente. E dava show, tinha rimas da hora, podia cantar elogios sobre a bunda da mina na arquibancada e ninguém vinha com essa cascata de assédio e tal. Cansei!