Aos 93 anos, médico atende gerações em posto do SUS
Além da rotina de atendimentos na equipe de saúde da família, Vicente faz cursos de atualização
Duarte Malva Vicente não é recém-formado nem cubano, tampouco se inscreveu no programa Mais Médicos. Aos 93 anos, com mais de 60 de carreira, trabalha todos os dias em um posto da periferia de São Paulo e não pensa em parar tão cedo.
Formado em uma das melhores faculdades do país, a Escola Paulista de Medicina, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Vicente integra a equipe de saúde da família da UBS Vila Terezinha, na Brasilândia (na zona norte). Entra às 7h e só sai depois das 16h. Além da rotina de atendimentos de segunda a sexta, faz cursos de atualização à noite e pelo menos uma vez por semana sobe e desce as ladeiras do bairro para visitar pacientes.
“Já recebi alguns convites para trabalhar em outros lugares, mas não quis ir. Sabe por quê?” Pergunta e tira da gaveta uma broa de fubá dada de presente por um de seus pacientes. “É pelas amizades”, responde.
As amizades já estão na terceira geração. Certo dia, ele foi parado por uma menina perto da UBS. “O senhor fez o parto da minha mãe”, disse a garota. Algum tempo depois, ela engravidou e foi Vicente que fez o parto.
Em tempos de fácil acesso a exames e comunicação rápida, ele tenta praticar medicina à moda antiga. Não dispensa uma conversa demorada com o paciente. “Tem gente que manda foto pelo celular para a gente falar o que é. Às vezes até já escolheu o remédio. Mas eu preciso ver a cor, sentir o cheiro. Hoje tem mais exame, mas o que fazer com o dado depende da nossa experiência”, diz. Duarte Malva Vicente