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Para Pelé, é difícil defender comportame­nto de Neymar

Rei do Futebol alerta o atacante do PSG, admite que se sente fraco e afirma: ‘Deus mandou conta agora’

- Paulo passos alex sabino (FSP)

Sentado em uma cadeira no museu que leva seu nome, em Santos (78 km de São Paulo), Pelé, 78, assiste à procissão. É uma romaria de gente que espera horas pela chance de vê-lo, pedir autógrafo ou uma foto. Os pedidos não param, mesmo que seu fiel escudeiro e assessor Pepito Fornos tente impedir.

Quatro décadas após ter parado de jogar, Pelé continua reverencia­do, e sua presença, requisitad­a. A saúde, debilitada por três cirurgias nos últimos anos, o impediu de viajar para a Rússia na Copa. Promete estar no Qatar, em 2022. Será a sua última, avisou em conversa com a reportagem.

Ele disse que o Brasil precisa apoiar o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), falou sobre sua condição física e opinou que Maradona foi muito melhor do que Messi. Como está a saúde do Pelé? Pelé Graças a Deus, estou bem. Fiz três cirurgias nos últimos anos, mas não estou 100%. Não sinto mais dor, sinto mais franqueza. Eu tinha pernas bonitas, olha como estão agora [aperta as coxas por cima da calça]. Tive de fazer duas [cirurgias] no quadril, uma na coluna porque houve desgaste. Tem o joelho... Até brinquei. Disse que joguei futebol por 30 anos, 25 no Santos e cinco no Cosmos. Deus só mandou a conta agora. Parece que o senhor diminuiu as viagens. É difícil para alguém que viajou muito a vida inteira ficar em casa? Pelé Ficar muito em casa é difícil. Nem no Santos era assim. É recomendaç­ão médica. Houve a correção da primeira cirurgia e a troca da cabeça do fêmur. Isso me debilitou. Quando fui fazer a segunda foi pior. Há quase um ano estou mais calmo. Mesmo assim estive na Índia, nos EUA, na África, na Europa. Viajei pra chuchu porque tenho contratos de publicidad­e. No próximo Mundial quero ir e assistir. Vou pendurar a chuteira para ficar em casa e aproveitar a família. Brinquei com o Tite: “A próxima Copa vai ser a última em que vou jogar. Depois, não me convoque”.

Em algum momento teve medo de morrer? Pelé Tenho receio, né? De vez em quando você fica meio preocupado. Senão ninguém tomava remédio. Fiz a cirurgia e não recuperava, não recuperava. Forcei demais a perna esquerda, complicou meu joelho. Faço fisioterap­ia e em duas semanas vou deixar em bengala.

Viu a Copa? O que achou da seleção? Pelé A crítica foi injusta. O time não se conhecia tanto. Tivemos azar.

O Neymar foi criticado e ironizado por se jogar... Pelé De vez em quando, troco ideia com o pai dele. Ficou difícil defender o Neymar por essas coisas que faz além de jogar futebol. E eu conversei com ele, disse que futebol ele tem. Deu azar, a seleção não ganhou e ele ficou marcado. Estive duas vezes com ele na Europa. Expliquei: “Deus te deu o dom. O que você fez é que complicou”.

Você ainda acha que o Brasil é o melhor no futebol? Pelé Sem dúvida. A preocupaçã­o de jogar contra a seleção brasileira é a mesma. O Brasil tem uma base que todo mundo respeita. Os outros aprenderam com a gente. Pelé, admitindo que a saúde está debilitada O Pelé ainda para para ver jogos? Pelé É meu passatempo. De vez em quando me aborreço. Tem jogada que a gente vê e acha fácil sentado no sofá. Por que não fez isso ou aquilo? De vez em quando, procuro ver as partidas, principalm­ente da Europa. Estava falando com o meu irmão e ele me perguntou: “Você se lembra de jogadores da Alemanha, da Itália, Checoslová­quia?” Falei “me lembro”. “Não do seu tempo, da última Copa”, ele questionou. Eu não lembro. Até o Brasil está meio difícil escalar. Isso foi uma coisa que me chamou a atenção. Na rua ninguém sabe direito quem é o goleiro da seleção.

No ano passado e neste, dois jogadores de 17 anos, o Vinícius Júnior e o Rodrygo, foram vendidos para o Real Madrid por quase R$ 400 milhões. Quanto valeria um Pelé de 17 anos hoje? Pelé A mesma coisa, mas depende do momento de cada um. Eu não saí porque não quis. O Santos teve duas ou três propostas. [Mostra uma montagem de foto dele com Mbappé]. Os caras estão me comparando com o Mbappé. É parecido, né? Mas ele já tem 19. Ele ganhou a Copa. Isso me mandaram mais de sacanagem, mas ele estava me homenagean­do. Pô, faz 50 anos que parei de jogar. Não sei onde arrumaram esta foto porque estamos parecidos, quase com a mesma idade. Acho que Neymar é mais jogador que ele, mas na Europa todo mundo fala mais do Mbappé.

O Pelé se aposenta um dia? Pelé Todas as Copas eu tenho 500 convites comercias. Nesses três anos até a próxima Copa eu vou sossegar e só vou viajar quando eu quiser para ver o jogo. Não vou para trabalhar.

Você votou neste ano? Pelé Eu não votei porque estava fora do país. Acho que foi bem escolhido. A gente tem que dar apoio para que dê tudo certo para o governo que está sendo montado. Sobre ver jogos na TV

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Bruno Santos/folhapress Pelé equilibra a bola na cabeça no museu que leva o seu nome na cidade de Santos; o ex-jogador diz que hoje é difícil saber a escalação da seleção brasileira
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