Armas de brinquedo fazem sucesso e são febre no Natal
Interesse coincide com debate sobre a posse de armas; para especialistas, não há relação com política
Vai ter tiroteio —de brincadeira— no Natal dos sobrinhos da contadora Patrícia Silva de Carvalho, 34 anos. Na última quinta-feira, a tia foi às compras na rua 25 de Março (região central) e garantiu sete pistolas de jatos d’água para os garotos, que têm entre cinco e dez anos. “Eles não pediram, mas eu resolvi comprar porque eles já brincam com as [armas] dos vizinhos”, contou Patrícia, enquanto equilibrava o arsenal em um corredor lotado de consumidores.
Não é de hoje que as armas de brinquedo fazem sucesso entre crianças, mas a busca pelos produtos neste ano tem impressionado lojistas do principal centro de comércio popular do país. “Faz anos que eu tenho essas armas, mas neste ano a procura está demais”, diz o gerente da matriz da Armarinhos Fernando, Ondamar Ferreira. “Estamos vendendo cerca de 15% a mais.”
A demanda pelos itens também está em alta na principal varejista do setor, a Ri Happy, que colocou modelos que disparam dardos esponjosos na lista de produtos mais desejados.
O sucesso das armas de brinquedo nas lojas da capital paulista coincide com o momento em que o debate sobre o direito de possuir armas de fogo voltou à tona, com o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), que incluiu o assunto entre as suas promessas de campanha.
Contrária à brincadeira, a operadora de Caixa Ana Karoliny de Oliveira Lima, 31 anos, lembrou a eleição ao explicar o motivo de não querer comprar um disparador de dardos pedido pelo filho Jhonatan, cinco anos. “Eu nem votei em Bolsonaro para gostar de armas.”
Karoliny, que acabou cedendo à vontade de Jhonatan, preferiu ver um lado menos negativo no interesse do filho por armas. “Acho que o Bolsonaro é igual criança: gosta de armas. Então, tenho esperança que o meu filho ainda vai ser presidente do Brasil.”
O Instituto Sou da Paz afirma que “seria especulação dizer que o sucesso dos brinquedos é reflexo do cenário político”, pois há crescimento na demanda por armas reais mesmo antes destas eleições. Em 2017, as vendas subiram 16% em relação a 2016, segundo dados do instituto.
A Abrinq (associação de fabricantes) informou que o setor espera aumento de 8% nas vendas de todas as categorias de brinquedos.
A associação explicou que não possui levantamentos específicos sobre cada produto, cujo ranking de vendas é classificado por grupos. Armas estão entre os esportivos. A entidade disse ainda ter sido pioneira na campanha que resultou na proibição da venda e do comércio de brinquedos que podem ser confundidos com armas reais.