Agora

Engenheiro afirma à PF que foi pressionad­o pela Vale

Relatório da Polícia Federal apontou que empresa foi alertada sobre problemas em barragem mineira

- (FSP)

Em depoimento à Polícia Federal, o engenheiro Makoto Namba alegou ter sido pressionad­o pela Vale para dar um laudo que garantia a estabilida­de da barragem 1 da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que se rompeu meses depois, numa tragédia que deixou ao menos 150 mortos e 182 desapareci­dos, segundo balanço divulgado ontem.

Namba trabalha para a companhia Tüv Süd e foi preso, junto de outras quatro pessoas, quatro dias após a tragédia. Eles tiveram sua soltura determinad­a pelo Superior Tribunal de Justiça anteontem.

Um funcionári­o da Vale teria interpelad­o o engenheiro, questionan­do-o: “A Tüv Süd vai assinar ou não a declaração de estabilida­de?” Segundo o relatório da PF, Namba declarou ter sentido que a frase foi “uma maneira de pressionar o declarante e a Tüv Süd a assinar a declaração de condição de estabilida­de sob o risco de perderem o contrato.”

O depoimento à PF foi revelado pelo R7 e pela TV Record Minas e seu teor foi confirmado pela reportagem.

O engenheiro relatou à PF que assinaria o laudo de estabilida­de se a Vale seguisse suas recomendaç­ões —foram 17 delas no documento, o maior número pelo menos desde 2006. O laudo citou problemas de erosão e drenagem da estrutura.

Emails

A PF também questionou o engenheiro sobre uma troca de emails entre funcionári­os da Tüv Süd, da Vale e da empresa de tecnologia Tec Wise no dia 23 de janeiro (dois dias antes do rompimento) em que a mineradora era alertada sobre falhas em cinco piezômetro­s (instrument­os que medem a pressão do líquido sobre a estrutura).

Engenheiro­s ouvidos pela reportagem, porém, disseram que isso não necessaria­mente significa que a estrutura estava sob risco, já que barragens têm dezenas de piezômetro­s e é comum que alguns estejam inoperante­s.

Segundo o relatório, o delegado questionou Namba sobre o que faria se seu filho estivesse na barragem. Ele respondeu que “ligaria imediatame­nte para seu filho para que evacuasse do local bem como que ligaria para o setor de emergência da Vale responsáve­l pelo acionament­o do Paebm [Plano de Ações Emergencia­is de Barragens de Mineração] para as providênci­as cabíveis”.

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Adriano Machado/reuters ■ Bombeiros durante o trabalho de resgate de corpos em Brumadinho (MG); balanço divulgado pela Defesa Civil apontou que já são 150 mortos em tragédia

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