Filho de Bolsonaro ataca ministro em crise no governo
Presidente esperava pedido de demissão de Bebianno, que foi chamado ontem de mentiroso por Carlos
A revelação do esquema de candidaturas laranjas do PSL pela reportagem abriu uma crise no governo Jair Bolsonaro, alavancada pelo ataque ontem do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, ao ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-geral).
O presidente avalizou as críticas e compartilhou em rede social postagens do filho. Segundo a reportagem apurou, ele esperava que Bebianno pedisse demissão já no começo do dia, para que saísse do hospital onde esteve internado em São Paulo e chegasse à tarde a Brasília com um trunfo para conter os impactos do caso. O ministro, porém, não se posicionou até a noite.
Nomes importantes da bancada do PSL na Câmara também se manifestaram e elevaram a tensão no partido, que está sob pressão com reportagens sobre a destinação de verba do fundo partidário para candidatas laranjas nas últimas eleições.
Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) afirmou nesta quarta em rede social que o ministro mentiu ao dizer que conversou três vezes com seu pai, Jair Bolsonaro, no dia anterior —declaração que visava corroborar seu discurso de que não haveria desgaste.
“Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano [sic] que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista”, escreveu.
Mais tarde, Carlos divulgou um áudio no qual o presidente se recusa a conversar com Bebianno: “Gustavo, está complicado eu conversar ainda, então não vou falar com ninguém, a não ser o estritamente essencial”.
No centro da crise estão o presidente atual do PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE), e Bebianno, que presidiu o partido em 2018, durante o período eleitoral.
Reportagem de domingo revelou que o grupo de Bivar criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição.
O dinheiro foi liberado por Bebianno. Maria de Lourdes Paixão, 68 anos, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.
Anteontem, a reportagem revelou ainda que Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte para uma gráfica de fachada.