Cresce registro de crimes de intolerância religiosa na capital
Número de casos relatados à Polícia Civil dobrou no início deste ano em comparação com 2018
A intolerância religiosa cresceu na capital no primeiro quadrimestre deste ano. É o que aponta levantamento feito pela reportagem baseado na LAI (Lei de Acesso à Informação).
A Polícia Civil recebeu 562 notificações de crimes dessa natureza de janeiro a abril, o dobro do que foi registrado no mesmo período do ano passado (280). Foram cinco boletins de ocorrência por dia, em média.
Segundo os números da polícia, o principal crime relacionado à intolerância religiosa foi o de injúria (artigo 140 do Código Penal), com 246 casos registrados em delegacia. A pena inicial, nesse caso, vai de um a seis meses de detenção ou multa —na prática, ninguém vai preso por esse motivo.
Os dados mostram que foi nos extremos das zonas sul e norte que a polícia mais registrou casos de intolerância. Entre os distritos policiais com mais boletins de ocorrência por esse motivo estão 47º DP (Capão Redondo), 73º DP (Jaçanã), com 13, 92º DP (Parque Santo Antônio) e 46º DP (Perus), com 12.
Os registros resumidos apresentados pela polícia não especificam qual foi a religião alvo de intolerância, nem quem a cometeu.
Condenação
Embora crimes como a injúria sejam considerados de menor potencial ofensivo e dificilmente terminem com a prisão do agressor, ainda assim é possível que a vítima consiga levar o responsável a uma condenação judicial.
Foi o que fez o babalorixá Jorge Lúcio, depois de ser ofendido e ameaçado por um vizinho na zona leste, ao passar paramentado pela rua com suas roupas de sacerdote. “Ele falou ‘esse bando de negro deveria estar na senzala’, entre outras coisas, sobre o pessoal do terreiro”, diz. O religioso buscou a Justiça e, em 2009, viu o ofensor, um militar, ser condenado a pagar indenização de R$ 10 mil.
Pai Jorge diz que a posse de Jair Bolsonaro (PSL) acirrou as tensões, com represálias contra religiões de matriz africana. “Não quero que voltemos a um tempo de inquisição, quando meus ancestrais eram obrigados a sair de casa com atabaques na cabeça”, fala.
Questionado sobre o aumento na intolerância e as críticas feitas por religiosos às atitudes de Bolsonaro, o Palácio do Planalto disse que não iria comentar.