Padre vira alvo e critica discurso odioso
A intolerância religiosa pode surgir não apenas entre pessoas de credos diferentes, mas até mesmo entre quem comunga, em teoria, da mesma fé.
Em Ermelino Matarazzo (zona leste), padre Ticão tem recebido ameaças e sido alvo de campanha difamatória por defender o uso medicinal da cannabis e dialogar com grupos feministas defensores do aborto. “Tenho medo, por que quantas pessoas já não entraram em igreja atirando? Pode acontecer com um doidinho desses”, afirma o religioso. “Tem um que aparece em foto com terço, cruz no pescoço e arma na mão.”
Para se defender, o padre já acionou cinco órgãos públicos, da Promotoria à Polícia Civil. “Eles [intolerantes] vão passar a vida respondendo a processos”, diz.
Segundo padre Ticão, seus acusadores usam a religião para agredir quem quer construir cidadania. “Esses grupos mais organizados, que são fascistas e mal informados, são usados por uma elite forte no Brasil. É bom lembrar que o fascismo e o nazismo sempre usaram os símbolos religiosos para reforçar suas posições”, diz.
O religioso critica também o discurso de ódio proTenho medo, por que quantas pessoas já não entraram em igreja atirando? Pode acontecer Padre Ticão pagado por autoridades, e cita Jair Bolsonaro (PSL). “Ele fala de uma igreja de Cristo, que foi torturado, mas defende a tortura”, diz. “É fundamental as autoridades públicas manifestarem uma postura ética e de respeito, e não é o que está acontecendo hoje.”
O padre de Ermelino Matarazzo afirma que a sociedade deve se posicionar contra o uso da religião para a disseminação do ódio.
“Onde estarão essas pessoas daqui a 20 anos? Querem construir uma ditadura político-religiosa?” (WC)