Sasha, o intocável
Paciência fez o artilheiro do time no Brasileiro dar a volta por cima após ser liberado
Eduardo Sasha, de 27 anos, foi surpreendido ao ser chamado pelo técnico Jorge Sampaoli para uma conversa em janeiro. Com poucos dias de trabalho no Santos, o argentino foi curto e direto: não o utilizaria e facilitaria a negociação do jogador com um novo clube. Sasha resolveu ficar.
“Não queria sair assim. Tive propostas, mas coloquei na cabeça que precisava jogar com um grande treinador. Se tornou um objetivo pessoal para mim”, disse ele à reportagem.
Oito meses depois, Sasha virou intocável para o técnico, titular nas últimas 7 partidas e artilheiro do time no Brasileiro, com sete gols.
Para chegar até aqui, precisou esperar. Ele nem sequer foi relacionado nos seis primeiros jogos do Santos na temporada e precisou ouvir, agora publicamente, que não estava nos planos de Jorge Sampaoli.
A primeira oportunidade no ano foi na vitória por 7 a 1 contra o Altos-pi, pela 1ª fase da Copa do Brasil. Ele entrou alguns minutos, já no segundo tempo. Sasha atraiu olhares do treinador no dia a dia, principalmente, por ser um trabalhador silencioso. Aplicado taticamente, jamais reclamou.
“Aos poucos ele foi me enxergando, vendo que poderia ser útil. Acredito que o que mudou o olhar dele sobre mim foram os jogos contra o Red Bull, pelas quartas de final do Paulista”, contou Sasha.
Sampaoli só recorreu ao atacante pelas frustradas negociações por um camisa 9. O principal alvo era Ricardo Oliveira, do Atlético-mg.
O treinador ficou admirado pela forma rápida como o jogador assimilava o método de jogo que luta para implementar. Tanto que assumiu o erro na análise inicial. “O Sasha fez partida incrível. Nos deixa feliz que tenha feito isso, nos faz pensar que erramos em não dar mais partidas para ele”, admitiu Sampaoli.
“Eu não criei caso, apenas fiz o meu trabalho. E acredito que a minha principal virtude, mesmo mudando de função, é assimilar o que um treinador deseja”, disse.
O responsável pela sua contratação no Santos foi Jair Ventura. Ele admitiu que já havia pedido a contratação do jogador desde os tempos que comandou o Botafogo, entre 2016 e 2017. O técnico o teve como homem de confiança durante a passagem de sete meses pela Vila Belmiro. Dos 39 jogos, Sasha participou de 32.
A escolha por Sasha rompe fronteiras na metodologia de Sampaoli. Venceu concorrência com o colombiano Uribe, contratado por R$ 5 milhões como o tão sonhado camisa 9.
Sasha supera também o rodízio com os jogadores de ataque implementado pelo técnico. Até então, o recorde de permanência era do paraguaio González, também com sete jogos. Ele já igualou a marca e virou até mesmo exemplo para outros jogadores para o treinador.
Questionado pelo não aproveitamento do volante Jobson, destaque no Paulista, o técnico respondeu: “[O Sasha] não era levado em consideração, mas ao vê-lo treinar virou um dos jogadores mais importantes do elenco. Não há verdade absoluta. Jobson tem que olhar para o Sasha e ficar aqui”.
Nascido em Porto Alegre, Eduardo Sasha não se expõe e fala pouco. “Não gosto desse estilo [boleiro], fujo disso”. A única grande polêmica da carreira foi em 2016, quando marcou um dos gols do Inter na decisão do Gaúcho, dançando valsa com a bandeirinha de escanteio, em provação aos 15 anos sem títulos de expressão do rival Grêmio.
O caso ganhou onda de reações gremistas. A principal foi do atacante Luan, que celebrou a conquista da Copa do Brasil do mesmo ano respondendo a Sasha com palavrões.
“Foi reação espontânea. Sou torcedor do Inter, fui mais na emoção de um torcedor mesmo. Sou tranquilo”, explicou o jogador, que precisou aprender a se domar no processo de formação. Chegou ao Internacional com nove anos e ficou conhecido no clube pelo estilo explosivo.
“Falava e depois me arrependia. Brigava muito, xingava os outros. Com os erros passei a entender que era bom respirar, pensar bem antes de falar”, lembra.
Aos 12, foi expulso do futsal por ter xingado o treinador. Outro episódio marcante foi quando chutou colega de time após sofrer falta em treinamento. “Hoje me considero controlado até demais. Às vezes, me cobro para tomar atitudes, de falar mais. É necessário, também”, explicou. (Folha)