Maquiagem perde espaço para os produtos de cuidados com a pele
Busca por tratamentos para o rosto cresce; especialistas não recomendam procedimentos médicos na internet
“A gente envelheceu”, diz a influenciadora digital Jana Rosa, 34 anos, quando questionada por que cremes faciais começaram a fazer sucesso nas redes sociais, ganhando espaço no mundo dos vídeos curtos de automaquiagem.
Para Jana, tanto as influenciadoras como as suas seguidoras — que passaram os últimos dez anos aprendendo a se maquiar assistindo a vídeos no Youtube —estão com mais de 30 anos e, com as primeiras rugas, veio o interesse nos cremes.
O mercado de cuidados faciais está aquecido no Brasil e no mundo. No Brasil, as buscas por “skincare” (cuidados com a pele, em inglês) —que vem se tornando um jargão na área— cresceram 22% entre 2017 e 2018, afirma pesquisa do Google. O crescimento foi maior no Youtube, de 71% no mesmo período.
Jana é dona da conta do Instagram Bonita de Pele e do canal do Youtube de mesmo nome. Juntando as duas plataformas ela tem mais de 300 mil seguidores. Ao lado de Julia Petit e Victoria “Vic” Ceridono, ela faz parte do time das influenciadoras digitais que começaram a falar de moda, beleza e maquiagem há dez anos no Brasil.
Julia, pioneira nos tutoriais de maquiagem, lançou em maio a marca Sallve. Para ela, a decisão de começar uma marca com um hidratante facial era nitidamente a melhor escolha. “Quando as pessoas prestam mais atenção em si fazendo maquiagem, elas vão inevitavelmente querer cuidar da pele”, diz.
“Eu sempre falei sobre creme. Mas era assim: vídeo sobre cuidados com a pele, silêncio [das seguidoras]. Vídeo sobre batom, milhares de curtidas e comentários”, afirma Vic Ceridono, do blog Dia de Beauté. Ela diz que o interesse das seguidoras em assuntos dermatológicos também cresceu há dois anos.
O assunto tem atraído maquiadores. “Antes, quando abríamos aula sobre estudo aprofundado de pele, vinham seis alunos. Na minha última turma tinha 20”, diz Simone Barcelos, dona da Escola Madre.
Luana Serodio, cofundadora da loja virtual Beleza Na Web, também contabiliza o crescimento na procura por tratamentos faciais. Ela afirma que as vendas de cosméticos para o rosto cresceram 500% nos últimos dois anos.
“Com o boom da maquiagem, a mulherada começou a usar mais produtos e sentiu a necessidade de cuidar mais da pele”, afirma. Assim como Jana, Luana também conclui que as jovens “loucas por maquiagem da internet no início dos anos 2000 viraram mulheres de 30 anos loucas por skincare”.
A onda de cuidados também impulsiona a busca por cremes. “É um cenário no mundo inteiro, que nada tem a ver com beleza, mas que faz com que as pessoas tenham mais vontade de se cuidar”, afirma Júlia.
O consumo de produtos de skincare é diferente da maquiagem, já que seu uso deve ser diário para ter efeito e os preços são mais elevados. Um creme à base de vitamina C custa de R$ 75 (30 ml, Payot) a R$ 300 (30 ml, Biossance). O hidratante antioxidante da Sallve sai por R$ 89,90 (35 g). (Folha)