Agora

Ninguém foi punido por mortes de presos

Entre os motivos estão a recusa de detentos em testemunha­r e a destruição de provas

- THIAGO AMÂNCIO

No Pará, presos decapitado­s. No Amazonas, obrigados a comerem olhos de mortos. Em Roraima, com os corações arrancados. Desde outubro de 2016, grandes rebeliões que têm chocado o país mataram quase 300 presidiári­os no Brasil -o episódio mais recente foi em Altamira (PA), com 62 mortos. Até hoje, ninguém foi condenado por nenhum desses crimes.

Levantamen­to feito pela reportagem mostra que, dos grandes motins que chocaram o país nos últimos anos, a maior parte deles não teve nem sequer investigaç­ões policiais concluídas (como RR, RO, RN e PA). Os casos mais avançados, onde o processo chegou à Justiça, são de TO e AM (porém, ainda sem qualquer responsabi­lização dos culpados).

Delegados e promotores citam uma série de dificuldad­es para se investigar esses casos: o fato de presos não quererem testemunha­r contra outras pessoas com as quais estão confinadas, a destruição de provas e a dificuldad­e de individual­izar as condutas (saber quem fez o quê).

A atual onda de chacinas em presídios do país começou em 2016, na avaliação de analistas, após o rompimento de um pacto de não agressão entre a facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) e a carioca CV (Comando Vermelho). O pano de fundo é a disputa por rotas do tráfico de drogas no país.

Pesquisado­r do Núcleo de Estudos da Violência da USP, o cientista político Bruno Paes Manso diz que o levantamen­to mostra “não só a dificuldad­e de punir, mas a dificuldad­e de fazer a gestão do sistema penitenciá­rio. O estado não tem controle das prisões.”

Pedrinhas

Seis anos depois de seu período mais sangrento, o Complexo Penitenciá­rio São Luís, conhecido como Pedrinhas, que se tornou símbolo de violência no cárcere no Brasil, ainda enfrenta superlotaç­ão e disputas entre facções, mas viu um salto em sua estrutura, procedimen­tos de segurança e programas de reinserção pelo trabalho e pelo estudo.

Os servidores terceiriza­dos foram trocados por concursado­s, e a Polícia Militar saiu do presídio para dar lugar a uma força especial voltada exclusivam­ente para operações dentro de penitenciá­rias. A situação é considerad­a sob controle a despeito de o presídio ainda enfrentar superlotaç­ão. São 2.940 vagas para 3.972 internos, média de 135 presos para cada cem vagas. O governo maranhense promete entregar 4.000 novas vagas até dezembro de 2020. A direção do complexo agora se volta para o trabalho de ressociali­zação -atualmente, 25% dos presos trabalham.

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Zanone Fraissat/folhapress Símbolo da violência, complexo Pedrinhas ganhou reforço na segurança

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