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‘Filhos da Pátria’ recua ao Brasil de Vargas para satirizar país de hoje

Segunda temporada da série com Fernanda Torres traz referência­s a panelas, leis trabalhist­as e Damares Alves

- ISABELLA MENON

RIO DE JANEIRO Maria Teresa bate panelas, fecha as janelas de casa com medo do comunismo e é casada com Geraldo, um funcionári­o público que rouba aqui e acolá —tudo pelo bem da família.

Essa história podia até se passar nos dias de hoje, mas é na década de 1930 que a segunda temporada de “Filhos da Pátria” é ambientada.

Os novos capítulos da série da Globo, que vão ao ar a partir de outubro, recuam à Era Vargas para refletir a política atual. Em alguns momentos, as referência­s são explícitas, como quando a trama satiriza a declaração da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que defende que “menino veste azul e menina veste rosa”.

A comédia explora o cotidiano da família carioca de classe média Bulhosa em meio às turbulênci­as do governo de Getúlio Vargas. Fernanda Torres, Alexandre Nero, Johnny Massaro e Lara Tremouroux interpreta­m os protagonis­tas.

Se na primeira temporada, de 2017, a trama tinha como pano de fundo a Independên­cia do Brasil, em 1822, agora os personagen­s respiram o fim da república do café com leite. A chegada dos rádios e da CLT (Consolidaç­ão das Leis Trabalhist­as) são os temas constantes.

Bruno Mazzeo, autor da série, compara a época aos dias de hoje. “A gente brinca que é o momento do ‘agora vai’”, diz, citando Millôr Fernandes, que definia o Brasil como “o país do futuro. Sempre”.

Escrito em parceria com Tati Bernardi, o roteiro não poupa os personagen­s de proferir absurdos racistas e machistas. “Às vezes, o pessoal da equipe me vê falar as maiores atrocidade­s e diz: ‘Mas é isso mesmo?’”, conta Fernanda Torres pouco antes de entrar em cena. A atriz interpreta Maria Teresa, mãe da família, com desejos de ascensão social. A dona de casa tem uma empregada, Lucélia (Jéssica Ellen), mas a desaprova quando ela pede folga.

Torres define sua matriarca como “um monstro” contraditó­rio, porque ela podia ser uma tia parecida com a que todo mundo tem. Dá até para ter “certo carinho por ela”.

A atriz diz que a série joga luz sobre mazelas do Brasil, como a “escravidão, que não foi resolvida, e os conluios no poder para manter privilégio­s”. Ela compara “Filhos da Pátria” à peça “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, sobre um agiota que vive às custas dos empobrecid­os pela crise de 1929.

“A série tem disso, do cara que ganha explorando o atraso e miséria do Brasil.” Para a atriz, um dos trunfos da série é tratar questões urgentes, como machismo, racismo e corrupções. (Folha)

 ?? Divulgação ?? A atriz Fernanda Torres interpreta Maria Teresa, mãe de família com desejos de ascensão social, em ‘Filhos da Pátria’, da Globo
Divulgação A atriz Fernanda Torres interpreta Maria Teresa, mãe de família com desejos de ascensão social, em ‘Filhos da Pátria’, da Globo

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