Parentes participaram de ação para morte de sequestrador
Conversa da polícia com familiares influenciou na decisão de atirar Karol Jonas Anness, ex-membro do conselho gestor do parque
Enquanto todos os olhos estavam voltados para o ônibus cruzado no meio da pista, dois personagens importantes para o desfecho do sequestro do ônibus 2520 passaram despercebidos na ponte Rio-niterói na manhã da última terça (20).
Eram a mãe e um primo de Willian Augusto da Silva, 20, que estavam a metros de distância quando o jovem foi morto por seis tiros. Ambos foram ao local do crime, e ao menos o primo conversou com policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Especiais), em sigilo, durante a ação.
Enquanto tudo acontecia, um terceiro parente também tentava ajudar os agentes a traçar o perfil do sequestrador por telefone. Segundo o comandante do Bope, o tenente-coronel Maurílio Nunes, a conversa com os familiares influenciou na decisão de atirar.
“Ele estava muito desconexo. Uma hora ele queria dinheiro para não matar, em outra queria se suicidar, em outro momento dizia que ia tacar fogo no ônibus. Com essa dificuldade de conexão, junto ao perfil traçado pela psicóloga, junto aos depoimentos dos familiares que nós colhemos, nós identificamos que não dava mais tempo de jogar com a sorte”.
Foi então que o comandante, gerente da crise, percebeu que a negociação já não era mais uma possibilidade e autorizou que os snipers disparassem quando julgassem possível. Willian tombou na escada do ônibus ao sair pela porta por alguns segundos.
Depois do sinal de positivo do atirador e da comemoração dos policiais, porém, a sensação dos familiares foi outra. Ficaram desolados por não terem conseguido contato com o jovem na ponte. “Eu tentei, eu tentei”, dizia o primo no velório, segundo uma antiga professora de Willian, Maria Nascimento. Cerca de 70 pessoas acompanharam o enterro na tarde desta quarta (21), no cemitério Parque da Paz, em São Gonçalo. (Folha)