Agora

Secretário especial da Cultura pede demissão

Henrique Pires deixa cargo na pasta e diz que governo tenta impor censura

- TALITA FERNANDES

BRASÍLIA Após a suspensão de um edital de projetos LGBT para TVS públicas, o Secretário especial da Cultura, Henrique Pires, anunciou que deixará o cargo por não admitir que o governo imponha “filtros” na cultura.

Pires comunicou o ministro Osmar Terra (Cidadania), a quem a secretaria é vinculada, sobre sua saída na noite de terça-feira (20). Em rápida conversa com a Folha de S.paulo no Palácio do Planalto, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, negou que haja censura.

“Não foi censura, eu estou aqui para resolver isso porque estava com problemas de trabalho”, disse.

As informaçõe­s divergem do relato feito por Pires à Folha. Segundo ele, a suspensão do edital foi apenas a “gota d’água” de uma série de tentativas do governo de impor censura em atividades culturais.

Ele disse que há oito meses vem tentando contornar diversas tentativas de cerceament­o à liberdade de expressão.

Segundo o secretário, esses filtros estão se propagando pelo governo e as pessoas estão chamando censura “por outro nome”.

“Ficou muito claro que eu estou desafinado com ele [Terra] e com o presidente sobre liberdade de expressão”, disse o secretário. “Eu não admito que a cultura possa ter filtros, então, como estou desafinado, saio eu”.

Pires fez ainda comentário­s sobre as declaraçõe­s e atitudes de Bolsonaro.

“O presidente é um homem simples, um homem humilde. Falta alguém que fale para ele a extensão disso aqui [restrições]”, disse.

O secretário disse ter mantido uma conversa amigável com Terra na noite de terça (20), durante a qual comunicou sua saída.

Em nota, o Ministério da Cidadania negou as acusações de censura.

“Ao contrário da versão divulgada pelo ex-secretário especial da Cultura José Henrique Pires, o cargo foi pedido pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, na terça-feira (20), à noite, por entender que ele não estava desempenha­ndo as políticas propostas pela pasta”, diz o texto.

O ministério informou ainda que o secretário-adjunto e secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, José Paulo Soares Martins, assumirá o cargo.

O caso acontece depois de uma série de declaraçõe­s em que Bolsonaro promete intervir no teor das produções financiada­s por meio da Ancine. (Folha)

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Ronaldo Caldas/divulgação O secretário de Cultura do governo federal, Henrique Medeiros Pires

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