Bolsonaro ameaça comando da PF e silêncio de Moro incomoda
Crise na polícia se aprofunda com aviso do presidente de que pode trocar diretor-geral do órgão
SALVADOR O silêncio do ministro da Justiça, Sergio Moro, diante dos sucessivos movimentos de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal tem causado estranheza na cúpula do órgão.
Nos sete dias que se seguiram desde a primeira manifestação do presidente, no último dia 16, o ex-juiz não deu uma só declaração sobre o assunto e tentou, por meio de interlocutores, passar a impressão de que estava distante do problema.
Depois de atropelar a PF e anunciar uma troca na superintendência do Rio, sugerindo inclusive um nome para a mudança, Bolsonaro agora colocou em xeque a permanência do diretorgeral, Maurício Valeixo.
“Agora há uma onda terrível sobre superintendência. Onze [superintendentes] foram trocados e ninguém falou nada. Sugiro o cara de um estado para ir para lá: ‘Está interferindo’. Espera aí. Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral”, afirmou Bolsonaro nesta quinta.
Moro, em seu Twitter, postou mensagens sobre assuntos diversos, mas não tocou na polêmica.
Em eventos da pasta ao longo da última semana, o ministro fez discursos e falou sobre o projeto de abuso de autoridade, que foi aprovado na Câmara e aguarda sanção presidencial.
A Polícia Federal é uma instituição subordinada ao ministério da Justiça. Valeixo virou chefe da PF por escolha de Moro. Os dois se conhecem há vários anos e trabalharam juntos na operação Lava Jato, no início.
As últimas declarações do presidente provocaram críticas de policiais federais e fez ganhar força a proposta de necessidade de autonomia do órgão.
Enquanto isso, pessoas próximas a Moro passam o discurso de que não há chance de ele deixar o governo por causa da interferência. (Folha)