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Brasileira é 1ª mulher faixa preta de krav magá na América Latina

- JOÃO GABRIEL

Nenhuma mulher havia passado no duro exame antes da psicóloga de 31 anos

Larissa Pace Leite sempre quis lutar.

Durante a infância, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, praticou handebol, basquete e vôlei, sempre incentivad­a pela mãe, Vanna. Ela, no entanto, não queria que a filha praticasse algo “agressivo”.

“Eu via um saco de pancada e ficava animada, queria bater. Ela não deixava, falava que não era coisa de menina”, lembra Larissa.

Aos 15 anos, teve a primeira chance. Procurou uma turma de judô para mulheres, mas não achou. Encontrou uma de caratê, só que foi o tatame ao lado que chamou sua atenção, para desespero de sua mãe.

“Porradaria comendo, galera correndo, professor gritando. Fiquei apaixonada”, conta ela, que também precisou convencer o pai, Wilson, que o krav magá seria uma boa opção.

Hoje com 31 anos, graduada e mestre em Psicologia pela Universida­de Federal Fluminense, Larissa se tornou a primeira mulher na América Latina a conquistar a faixa preta nesta luta. Quem confirma o feito é Mestre Kobi, precursor do estilo no Brasil e na região, e criador e chefe da Federação Sul-americana.

“Até agora, isso [a faixa preta] havia sido algo inalcançáv­el para as mulheres”, diz. Em 30 anos, segundo a federação, 156 alunos fizeram exame para a faixa e apenas 69 passaram.

A luta de defesa pessoal criada em Israel por Imi Litchenfel­d não se intitula arte marcial. Trabalha o preparo físico, o poder de reação, aumento da agilidade e do campo de visão e é usada por batalhões militares.

Para Larissa, transformo­u seu modo de lidar com um mundo que ela mesmo entende que “vive em tempos difíceis, de muita violência”.

Segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde, o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídi­os do mundo. No país, 13 mulheres foram assassinad­as por dia em 2017, conforme os mais recentes dados do Atlas da Violência, maior número em dez anos. Os assassinat­os dentro de casa cresceram 17,1% desde 2012. São 164 casos de estupro e 606 de violência doméstica registrado­s por dia.

Para Larissa, a luta dá confiança psicológic­a para lidar com tal realidade.

No exame para faixa preta, o aluno precisa completar uma corrida de 3 km em até 14 minutos, fazer dez barras, 15 paralelas, 60 flexões, 80 abdominais e levantar um peso de cinco quilos, cinco vezes, usando uma corda —três vezes em um mesmo dia. Caso seja aprovado, no dia seguinte há um exame técnico.

Antes de Larissa, nenhuma mulher havia passado sequer da primeira etapa do exame. (Folha)

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Ricardo Borges - 20.ago.2019/folhapress Larissa Pace, primeira mulher faixa preta no krav magá latino-americano

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