Cerco aos frequentadores da cracolândia fica mais intenso
Usuários de drogas e moradores relatam pressão; unidades de atendimento são realocadas
Usuários de drogas que frequentam a região da cracolândia, no centro de SP, relatam avanço da pressão para deixarem o local.
Somados às recentes obras urbanas na área e à transferência de unidades de atendimento, os depoimentos ouvidos pela reportagem apontam intensificação da violência policial contra dependentes químicos e moradores de rua.
As afirmações são feitas por moradores, assistentes sociais, urbanistas e ativistas. Tanto a Polícia Militar, do governo João Doria, como a Guarda Civil, sob Bruno Covas (ambos do PSDB), negam qualquer mudança de diretriz na conduta.
No dia 22 de agosto, uma operação liderada pelo Denarc (divisão de narcóticos da Polícia Civil) utilizou 560 agentes de segurança para deter 17 suspeitos e apreender 21 kg de drogas na área.
Os relatos do aumento da violência, porém, ocorrem em ações cotidianas como a limpeza das vias onde fica o “fluxo” da aglomeração de dependentes químicos e moradores de rua, feita diariamente desde 2017.
“Batem mesmo, na cara dura. É pro pessoal sair. É isso que eles querem”, diz Eduardo Mousinho, morador da região.
Mousinho diz que a escalada de agressões das últimas semanas é notada sobretudo quando usuários retornam após a limpeza.
“Dão chute, tomam as mantas, pegam as coisas. Eles já não têm nada e o pouco que têm os caras tomam, nesse frio”, diz ele, que é ex-usuário de cocaína e realiza trabalho voluntário com dependentes.
As ações de limpeza ajudaram a desmobilizar a feira de drogas que ocorria na região. Hoje, a montagem das barracas que encobrem o tráfico flutua -a reportagem presenciou vias obstruídas pelo fluxo em dois dias desta semana, e desobstruídas em outros dois. (Folha)