Facada em Bolsonaro completa um ano e vira trunfo político
Presidente busca manter viva memória do ataque, narrado em detalhes por testemunhas em MG
Os mais exagerados contam que Juiz de Fora (MG) parou naquele dia. Ao menos a região central ficou caótica: primeiro pela multidão que, eufórica, cercava Jair Bolsonaro, e, em seguida, pelo corre-corre para salvá-lo da morte, depois que Adélio Bispo de Oliveira deu uma facada na barriga do então candidato do PSL a presidente.
Quase um ano após a tarde de 6 de setembro, o roteiro do fato é relembrado por quem testemunhou o ataque. Era 15h06 quando Bolsonaro se deparava com uma aglomeração eufórica. Eram milhares de pessoas que temiam um vexame de público na cidade onde o nome do PT ao Palácio do Planalto liderava eleições desde 1998. Empolgado, o candidato contraria orientações de seguranças e decide se juntar à passeata com apoiadores, montado nos ombros de um agente da escolta. O mar de gente toma o calçadão da rua Halfeld. “Mito, mito, mito!”, gritam em coro. “Eu vim de graça”, provocam.
Na esquina com a rua Batista de Oliveira, às 15h30, Adélio chega perto de Bolsonaro e enfia uma faca de cerca de 30 cm na barriga dele. Manifestações prógoverno elegeram o cruzamento como parada obrigatória no trajeto. Em um ato de apoio ao ministro Sergio Moro (Justiça), em junho, os participantes fizeram um minuto de silêncio na esquina, rezaram o pai-nosso e tocaram o hino nacional.
Bolsonaro mantinha a liderança nas pesquisas com 22% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Após o ataque, avançou para 24%. Por orientação médica, ausentou-se de debates na TV e suspendeu a campanha de rua.
Eleito com 55% dos votos no segundo turno, Bolsonaro manteve o assunto em evidência desde a vitória. A facada virou trunfo político. O presidente e seus aliados ganharam, com a associação de Adélio ao PSOL, o combustível ideal para a retórica de contraposição à esquerda inflamada desde a campanha. Sempre que pode, Bolsonaro se refere ao episódio. Em 31 de julho, sem motivação aparente, ele publicou em suas redes sociais um vídeo com imagens de sua transferência para o hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde ficou internado por 23 dias, em 2018. (Folha)
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