Agora

Faz sorrir ou faz chorar

Levantamen­to que considera alegria e euforia das batidas de uma canção indica que músicas de Sandy & Junior ficaram mais tristes na adolescênc­ia

- LEONARDO DIEGUES LUCAS BRÊDA

No universo pop, um dos temas mais importante­s do ano vem da década de 1990. A turnê da volta de Sandy & Junior marca o ressurgime­nto da dupla após 12 anos longe dos palcos.

Não há músicas novas, nem intenção de promover as carreiras solo de cada um dos irmãos. Com as faixas mais conhecidas, o repertório também não tem pretensão de angariar novos fãs, mas busca comover os convertido­s.

Mais que uma retomada da carreira, portanto, a nova turnê é um deliberado aceno à nostalgia. Mais especifica­mente, quando Sandy & Junior foram um fenômeno adolescent­e, na virada dos anos 1990 para os 2000 —período de onde vem a maior parte das canções dos shows.

Como mostra levantamen­to da Folha de S.paulo, foi bem nessa época que os discos da dupla começaram a ficar mais tristonhos. A diferença é perceptíve­l na virada do disco “Sonho Azul”, de 1997, para o álbum “As Quatro Estações”, de 1999.

O cálculo foi feito levando em conta a métrica chamada valência, que considera a alegria e a euforia das batidas de uma canção. A categoriza­ção é feita pelo Spotify, o maior serviço de streaming, que analisa padrões nas canções presentes em sua plataforma. Músicas com indicador alto de valência são mais alegres e eufóricas, enquanto as com indicador baixo soam mais melancólic­as e depressiva­s.

A balada “Imortal”, com 0,176 de valência, é a mais triste do repertório padrão da turnê que está na estrada. É também a primeira música de “As Quatro Estações”, exatamente o álbum que marcou a virada de ânimo na discografi­a da dupla.

É possível dizer que a chegada da adolescênc­ia marcou o momento em que a média das músicas da dupla ficou menos alegre. Foi também quando os álbuns começaram a vender ainda mais do que na fase infantil.

Até “Sonho Azul”, a dupla não havia batido a marca de 1 milhão de discos vendidos. “As Quatro Estações” não só vendeu cerca de 3 milhões de cópias como rendeu outros dois discos que ultrapassa­ram 1 milhão de exemplares vendidos (a versão ao vivo e a de remixes).

Psicologic­amente falando, a adolescênc­ia é a época em que as questões mais complexas da vida —o acúmulo de responsabi­lidades, as descoberta­s sexuais— se fazem presentes. É natural que a chegada dessa fase traga consigo as maiores decepções e, no caso dos irmãos, músicas mais reflexivas.

O período da virada do milênio marcou ainda uma maior abertura da dupla às novas influência­s musicais —o que é, de certa forma, outra faceta do processo de amadurecim­ento. Quando sob o comando do pai —o sertanejo Xororó, sucesso absoluto nos anos 1990 em dupla com Chitãozinh­o—, Sandy & Junior faziam cantigas e tinham como referência a estética do country americano. No começo dos anos 2000, a personalid­ade dos jovens passou a se destacar, dos arranjos roqueiros às batidas eletrônica­s do pop.

A grosso modo, os espetáculo­s

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Fotos Mariana Pekin/uol Sandy em show no Allianz Parque, em São Paulo

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