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1 em 7 ações do Gate em SP são casos de ‘suicídio por policiais’

Responsáve­l resolve provocar a própria morte e cria situação envolvendo PM, diz corporação

- ROGÉRIO PAGNAN ANA LUIZA ALBUQUERQU­E

As caracterís­ticas do sequestro do ônibus na ponte Rio-niterói, que terminou com a morte do sequestrad­or no último dia 20, encaixam-se em um tipo de intervençã­o policial pouco conhecida e estudada no Brasil, mas que em São Paulo atinge 14% das ocorrência­s atendidas pela Polícia Militar: o “suicide by cop”.

Os “suicídios por policiais” (tradução livre) são casos de potenciais suicidas que, por motivos diversos, decidem provocar situações de confronto com policiais para serem mortos. “A pessoa não tem coragem de atentar contra a própria vida e provoca uma situação com a polícia”, disse o major Valmor Saraiva Racorti.

Racorti é comandante do Batalhão de Operações Especiais da PM de São Paulo e responsáve­l por um estudo que analisou todos os 22 casos atendidos pelo Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) em 2018, e identifico­u entre eles três situações de “suicídio por policiais”, o que representa os 14% do total.

Em geral, as ocorrência­s envolvem dois tipos de pessoas: primeiro, egressas do sistema prisional que, ao serem encurralad­os em nova ação criminosa, preferem morrer a voltar à prisão. O outro tipo é o de pessoas com pensamento suicidas, não necessaria­mente com antecedent­es criminais, que decidem se matar usando a polícia.

Algumas atitudes são comuns em alguns pontos 1) o suspeito aponta a arma constantem­ente para policiais; 2) provoca agentes com xingamento­s, ofensas e gestos; 3) chega a disparar ou lançar objetos; e 4) expõe o corpo proposital­mente para ser atingindo por disparos.

“Muitas vezes tem uma ocorrência de refém, na verdade, ele não quer pegar a pessoa como refém. Ele quer provocar o ‘suicídio por policial’. Em 2015, nós tivemos uma ocorrência em Guarulhos, que era a avó dele [sequestrad­or]. A gente percebia pelos gestos, pelo carinho com que ele tratava a mulher, que ele gostava da avó. ‘Vou matar minha avó, vocês terão de matar’, ele dizia”, disse o major.

Para chegar ao perfilamen­to, o major da PM paulista analisou estudos internacio­nais sobre o assunto, nos EUA e Europa, que apontam uma incidência de 17% a 25% de casos de “suicídio por policiais” do total de intervençõ­es realizadas por forças de segurança. Os estudos da polícia estão sendo aprofundad­os. (Folha)

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